O livro Pedagogia da Autonomia discute um conjunto de saberes necessários aos empenhados em construir uma relação educativa transformadora, intra e extra muros escolares. Nesta postagem, pontuei passagens importantes do capítulo 1, através de levantamento de ideias como auxílio em meus estudos com referência em Paulo Freire.
"Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser.
(Paulo Freire)
ÉTICA - RESPEITO À DIGNIDADE - ESTÍMULO À AUTONOMIA DO EDUCANDO
A leitura nos impulsiona a questionar a prática pedagógica autoritária
O EDUCANDO PRECISA SER PROTAGONISTA!
Educandos são sujeitos sócio-histórico-culturais!
Enfoque do livro Pedagogia da Autonomia (1996) - Uma postura flexível e amorosa facilitam a relação educador x educando, a fim de permitir um ambiente favorável à produção de conhecimento, é imprescindível ter coerência nas ações. Ressaltando que o medo apenas domestica ou doutrina, mas a relação de respeito amplia espaço para a troca e o compartilhamento de conhecimento e saberes.
ALERTAS
- Necessidade de assumirmos uma postura vigilante contra todas as práticas de desumanização por intermédio da auto-reflexão crítica;
- Cuidado para a força de seu discurso ideológico e para as inversões que pode operar no pensamento e na prática pedagógica ao estimular o individualismo e a competitividade;
- A solidariedade enquanto compromisso histórico de homens e mulheres, como uma das formas de luta capazes de promover e instaurar a “ética universal do ser humano";
Esse livro leva a reflexão da formação docente, assim é imprescindível haver um exercício permanente de troca de saberes. Todos trazemos uma bagagem de conhecimento em amplo aspecto, que deve ser valorizado e respeitado. Alunos não podem ser apenas expectadores, devem ser ativos, críticos e questionadores. O docente deve ter uma postura vigilante, pois somos seres condicionados e não determinados, e compreender que educação não é apenas objeto ou bem de consumo.
Será que os educadores estão incentivando a prática de autonomia ou apenas estamos reproduzindo um velho modelo de adestramento, ignorando os conhecimentos prévios dos sujeitos?
Responsabilidade ética no exercício da prática docente
Deve-se pensar e analisar qual a sua concepção pedagógica de ensino. Com base no enfoque da formação científica, ética, respeito, coerência de ações, capacidade de viver e de aprender com o diferente, não permitir que a antipatia quanto à determinadas pessoas se sobreponha, portanto são atitudes que requerem humildade e perseverança.
A defesa da ética universal do ser humano pactua com o respeito aos pensamentos distintos, pois cada indivíduo ou grupo tem suas ideias, ideais e conceitos. Todavia, não significa que deve desmerecer o de outros. Há um meio termo para as diversas situações, usar a ética e a diplomacia é crucial, pensando na ética como algo absolutamente indispensável à convivência humana.
Ser humano é um objeto inacabado, passível de mudanças no decorrer do tempo, incorpora novos elementos em sua análise, assim revê suas concepções e pensamentos.
O pensamento muda, transforma sob novos ângulos, ou seja, conhecimento é inacabado, incorpora novos elementos. Há muito a ser descoberto e inventado além do que já conhecemos. A humanidade sempre está se reinventando, seja pela cultura, pelas diversas linguagens, pela arte, ciências, religiões, inteligência, sensibilidade.
Se participamos da humanidade com nossas sensibilidade e inteligência relacionamos conhecimento com o mundo, nos humanizamos. Mas se apenas nos adaptamos, perdemos a oportunidade de nos humanizar.
"É no domínio da
decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade da ética e
se impõe a responsabilidade."
NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA (indicotomizáveis) - Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa.
Paulo Freire reconhece que o conhecimento é algo inacabado. A ação educativa é a prática de compartilhar conhecimento. É fato que teoria e prática andam simultaneamente, e que devem ser conteúdos obrigatórios à organização programática da formação docente. Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.
Docência x Discência - as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das
diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.
Explicação gramatical: Ensinar- verbo transitivo (quem ensina, ensina algo a alguém) - pede objeto direto (algo) e objeto indireto (a alguém)
Ao viver a autenticidade da prática ensino-aprendizagem: Para Paulo Freire, "participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que
a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade."
Sobre a “curiosidade epistemológica” - é construída pelo exercício crítico da capacidade de aprender.
Educador democrático - Na sua prática docente, reforçar a
capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. esse sentido, alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. Para tal, implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos,
rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Nas condições de verdadeira
aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da
reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. A consciência crítica tem interesse na investigação da trama de relações, e parte do principio de que a cultura, o conhecimento e a historia são produtos humanos e que se transformam permanentemente da ação humana. (conhecimento do mundo x ensina com o mundo). O enfoque não é treinar alunos, decorrente do modelo que apenas adestra.
Ainda é comum nos depararmos com professores que apenas reproduzem o conteúdo didático, sem reflexão, sem criticidade, o que torna a aula um momento enfadonho e nada interessante. Memorizar para uma apresentação ou apenas para responder uma prova não garante o principal, o aprendizado. Não se deve subestimar a inteligência do discente, seja ele criança ou de mais idade. O que instiga a aprendizagem são os desafios propostos, a interação com o o autor-texto e a livre comparação com seu contexto de vida, a conexão com a realidade, e pensar além. Repetições mecânicas e visões literais aprisionam o sujeito, tolhem a liberdade do pensamento e a autonomia.
Projeto Político Pedagógico (PPP): Toda escola tem um planejamento com metas a alcançar, objetivos a atingir, além de sonhos a realizar. A soma destas aspirações e os meios traçados para tornar isso real, é transcrito no PPP.
É denominado projeto, porque reúne propostas de ação concreta a serem executadas durante certo período de tempo. Político, pois no âmbito escolar, ocorre a formação de cidadãos conscientes, críticos e responsáveis, que serão sujeitos ativos individual ou coletivamente na sociedade provocando mudanças positivas ou negativas. Pedagógico, por definir e organizar atividades ou projetos de cunho educativos pertinente ao processo ensino-aprendizagem.
Quando os conteúdos do currículo escolar são selecionados, assim como a escolha do perfil do estabelecimento escolar, tudo é registrado no PPP. É um documento formal que toda escola deve possuir, embora muitos se restringem a apenas a utilizar teoria prontas copiada de outras já existentes, recheada de ideologias vazias, enquanto algumas exceções, respeitam a teoria em registro e executam na prática. É um documento vivo e eficiente na medida em que serve de parâmetro para discutir referências, experiências e ações de curto, médio e longo prazos.
Ao analisar os conteúdos das disciplinas, devemos ter em mente as seguintes questões (Learncafe)
1. O que a escola está ensinando?
2. Por que está ensinando tal conteúdo?
3. Qual a finalidade de ensinar isto?
4. Qual objetivo de aprende este conteúdo?
5. Qual sentido de ensinar este assunto e não aquele outro?
6. Se há tantos conhecimentos no mundo e nem tudo cabe no currículo, quais critérios para selecionar os assuntos abordados?
7. Quais valores incorporados nos livros didáticos?
8. Há que os alunos são incentivados a fazer com os conhecimentos escolares? Ou são incentivados a não fazer nada?
Todo PPP de qualquer escola é permeado por uma visão de mundo, e porquanto, por uma escolha política que privilegia um determinado conjunto de saberes, que necessariamente expressa um determinado conjunto de crenças e valores. Na escola democrática, os gestores, professores, alunos e suas famílias participam ativamente da redação e da revisão do PPP.
O que é preciso ter em mente é: Que tipo de formação queremos para os nossos filhos?
A comunidade escolar é quem decide, porém quando a gestão da escola é autoritária, esse documento é regido por 'especialistas', sob discurso de neutralidade técnica, impondo seus próprios valores (a favor de alguns e contra outros).
"Neutralidade no ensino" - é questionável! Geralmente, quem faz uso desse termo, tenta ocultar posições ideológicas. Sabemos que toda educação é permeada de valores, e a neutralidade se faz a favor de uma escolha política.
Toda visão de mundo,parte de um ponto de vista
Como lidar com os condicionamentos ideológicos em sala de aula?
O rigor ético do educador deve condenar o cinismo, preconceitos, reproduções de ideias e opiniões de terceiros sem qualquer comprovação, acusações sem prova de que outro tenha expressado ideias e falas, imposição de falso testemunho para induzir a crença de outros numa falsa argumentação.
Esse tipo de situação é comum quando se trata de assuntos polêmicos, tais como discussões sobre religião, política, opção sexual, mitos, etc
A ética difere pureza e puritanismo, nem confunde respeito aos valores fundamentais da humanidade com moralismo.
Para Paulo Freire, moralismo é uma perversão da ética. E a única maneira de defender a ética na sala de aula, é por intermédio do exemplo.
E como lidar com as divergências ideológicas na escola?
Paulo Freire responde que na maneira como lidamos com os conteúdos que ensinamos, no modo como citamos autores de cuja obra discordamos ou com cuja obra concordamos. Não podemos basear nossa crítica a um autor na leitura feita por cima de uma ou outra de suas obras. Pior ainda, tendo lido apenas a crítica de quem só leu a contracapa de um de seus livros. Posso não aceitar a concepção pedagógica deste ou daquela autora e devo inclusive expor aos alunos as razões por que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha crítica, é mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética.
É importante que os educandos tenham acesso às várias interpretações dos fatos, nas mais diversas disciplinas, para que tenham condições de formular as suas próprias ideias. Conhecimentos não são petrificados. Ninguém sabe tudo. Os livros não trazem tudo. Não chegamos no ponto final do conhecimento. Nenhum saber deve ser absolutizado. Conhecimentos são pontos de partida. E uma boa formação se revela na capacidade de os alunos relacionarem, interpretarem e transformarem esses conhecimentos e aplicá-los em suas vidas. E para isso é preciso conhecer as divergências e ter consciência das contradições presentes em todo saber. Por isso é fundamental que os alunos percebam o respeito e a lealdade com que um professor analisa e critica as ideias e as perspectivas do outro.
Paulo Freire observou que toda e qualquer educação está permeada de valores, o discurso de neutralidade oculta uma escolha política a favor da permanência, sendo este um empenho deliberado para manter um determinado sistema de conhecimento, e consequentemente um determinado sistema social. Ressaltando que, muitas vezes, é uma forma de manter o sistema excludente que não abarca as diversidades e a universalidade garantida constitucionalmente. O PPP precisa ser flexível, aberto e acessível a todos.
Ensinar exige pesquisa - não há ensino sem pesquisa ou vice-versa
"Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo
educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a
novidade."
Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a
pesquisa.
Não há neutralidade na educação. O fato é que todo ensino está necessariamente carregado de ideologia, às vezes de forma explícita, mas na maioria das vezes de forma oculta.
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos
A escola precisa compreender os valores dos sujeitos, assim como de classes populares. São saberes construídos nas práticas comunitárias, contextualizar saberes e vivências, assim como aproveitar experiências distintas do meio em que vivem os educandos, correlacionar os conteúdos das disciplinas curriculares com a realidade social de modo a estimular a criticidade e o papel social dos sujeitos, discutindo implicações políticas e ideológicas.
Ensinar exige criticidade
Manter a curiosidade, porém exercer a criticidade, evitando o excesso de racionalidade. Sendo esta curiosidade ingênua e desarmada, referente ao senso comum. Mas a curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como
pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere
alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Portanto, não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e nos excita.
Ensinar exige estética e ética
Mulheres e homens são seres histórico-sociais! Nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de
intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos. Abster-se da ética é estar em transgressão. Compreende-se que 'transformar a experiência em
puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício
educativo: o seu caráter formador.' Se há respeito a natureza humana, o ensino dos
conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando.
Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo
Corporeificação: dar corpo a palavra, fazer o que se fala
Para Freire, “pensar certo tanto
implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação, quanto o
respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando."
O que é pensar certo? "Pensar certo implica a existência de sujeitos que pensam mediados por objeto ou objetos sobre que incide o próprio pensar dos sujeitos." E mais, "a tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo
como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica
e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há
inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na
dialogicidade.
O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico."
Caminhos para pensar certo:
+ Busca seriamente o caminho da argumentação
+ Discorda do oponente sem nutrir sentimentos negativos pela oposição de pensamento
+ Aceitar a discordância
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação
"A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia."
Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática
A prática docente
crítica (implicante do pensar certo), envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o
pensar sobre o fazer. O pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido
pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da
reflexão crítica sobre a prática, a fim de obter melhora progressiva.
Quanto mais o sujeito faz sua auto-análise, tem uma maior percepção sobre si e com isso, permite mudanças e quebra de paradigmas. Estar disposto a mudar, ciente de que mudanças provocam rupturas, a necessidade de tomar decisões e novos compromissos.
Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural
Verbo assumir - verbo
transitivo, pode ter como objeto o próprio sujeito que assim se assume.
Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em
que os educandos em suas relações (entre si e com os educadores), ensaiam a experiência profunda de assumir-se, seja como ser social e histórico e como ser
pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar.
O respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista.
SOLIDARIEDADE - Como princípio das práticas pedagógicas
E MAIS, COLABORAÇÃO, GOSTO PELO RISCO E EXPERIMENTAÇÃO, ÉTICA
EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA!
EDUCAR É HUMANO!
Sinopse do livro: Na Pedagogia da autonomia, de 1996, Paulo Freire nos apresenta uma reflexão sobre a relação entre educadores e educandos e elabora propostas de práticas pedagógicas, orientadas por uma ética universal, que desenvolvem a autonomia, a capacidade crítica e a valorização da cultura e conhecimentos empíricos de uns e outros. Criando os fundamentos para a implementação e consolidação desse diálogo político-pedagógico e sintetizando questões fundamentais para a formação dos educadores e para uma prática educativo-progressiva, Paulo Freire estabelece neste livro novas relações e condições para a tarefa da educação.
REFERENCIA
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. – São Paulo: Paz
e Terra, 1996. – (Coleção Leitura)
Curso Learncafe - Pedagogia da Autonomia
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