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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A função social da Escola na EJA. Escola; Pra quê te querem?


Mais um artigo sobre Educação para Jovens e Adultos a ser trabalhado, com intuito de aprofundar os conhecimentos quanto ao assunto, na perspectiva dos autores citados abaixo.

Autores do artigo: Fernanda Maria da Silva¹, Marina Andretta Barbosa ² e Xavier Uytdenbroek ³

Principal objetivo: Analisar a função social que cumpre a escola para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), a partir da comparação da legislação educacional vigente e a prática vivenciada por educadores e educandos. Perante a dicotomia teoria-prática, buscaram identificar propósitos da educação para este público na literatura oficial.

A pesquisa realizada por intermédio de abordagem qualitativa - análise das propostas educacionais na legislação brasileira seguida de uma pesquisa de campo na qual foram utilizados como procedimentos metodológicos observações e entrevistas com alunos e professores de duas escolas da Prefeitura Municipal do Recife. 

Com base nos documentos formais, tais como, Lei 9394/96 (LDB/96), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o Plano Nacional de Educação 2001 e a Constituição Federal de 1988, no que dizem respeito à Educação de Jovens e Adultos (EJA): oficialmente, a função social qual a EJA se propõe a cumprir é a de preparar jovens e adultos, através de oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, possibilitar aos educandos aquisição de conhecimentos e habilidades necessários ao exercício da cidadania, preparação para o mundo do trabalho e participação crítica na vida política.

Orientação prática:

➽ EJA - Política Pública comprometidas com transformações estruturais e bancada pelo Estado. Com intenções éticas, políticas, culturais e sociais em curto, médio e longo prazo, que requer qualidade, profissionais qualificados e o seu desenvolvimento é como de um projeto social. É fundamental para todas as idades, pois ainda há um grande contingente de analfabetos no Brasil, o que remete a um processo de exclusão social. E tem como princípios: ler, escrever, interpretar.

➽ É uma política de inserção auto-sustentável. A EJA é um projeto estratégico e tático de Educação Nacional e tecnológica para formação de um sujeito com autonomia intelectual.

"A educação de jovens e adultos, visando a transformação necessária, com o objetivo de cumprir de maneira satisfatória sua função de preparar jovens e adultos para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho, necessita de mudanças significativas." (PCNs)

Essas mudanças estão acontecendo? Sob o ponto de vista dos autores: em sua maioria ainda estão por se concretizar. Essas mudanças foram norteadas pelos valores apresentados na Conferência Internacional de Hamburgo, na Lei 9394/96, no Parecer CEB 11/00, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos e na Deliberação 08/00 CEB. 

Na observação prática, na pesquisa de campo, os autores observaram: o propósito destinado a EJA continua cumprindo uma função paliativa, que na maioria das vezes abrange apenas os processos de alfabetização do educando, ao contrário do que orienta o PNE 2001, que faz referência não só a alfabetização mas também aos aspectos de formação do educando enquanto cidadão: 

"A alfabetização dessa população seja entendida como no sentido amplo de domínio dos instrumentos básicos da cultura letrada, das operações matemáticas elementares, da evolução histórica da sociedade humana, da diversidade do espaço físico e político mundial e da constituição da sociedade brasileira. Envolve ainda a formação do cidadão responsável e consciente de seus direitos e deveres."

O Plano Nacional de Educação 2001 mostra uma distorção grave entre os propósitos teóricos e práticos da EJA.

Observou-se que, o público que frequenta as salas de EJA tem muita vontade de aprender, alguns demonstram uma verdadeira sede por conhecimentos novos, reconhece a importância da educação para a formação do individuo, a importância da cultura letrada, entre outras coisas.

E na prática?  Tais fatores não são suficientes para a efetivação da função social que a EJA se propõe a cumprir. Na prática esta função passa por oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho. Porém a realidade vivenciada pelo alunado não parece ser tão levada em consideração como prevê a legislação.

Quanto ao acesso à EJA? Os problemas são muito mais complexos, apesar da melhoria nos índices, segundo declarações inscritas no texto. 

Importantes observações 
  • Não basta estar na escola, é preciso ter garantidos os direitos de acesso e permanência, condições dignas de estudo e ensino, práticas docentes que incentivem a reflexão e a formação cidadã, através de conteúdos significativos para este público.
  • É preciso que os sujeitos tenham plena consciência sobre que papel desempenha a escola em suas vidas, até mesmo sobre a real serventia deste modelo de escola perante suas demandas sociais, para que possam ter clareza sobre o que os traz novamente ou pela primeira vez à escola.
➽ As motivações de jovens e adultos são diferentes da motivações infantis. Para criança, há necessidade de um currículo padronizado e extenso, mas os adultos necessitam de conteúdos de aplicação prática para a vida diária e para resolução de problemas. Bons exemplos de triunfos adquiridos com a EJA é a independência de ler e escrever com privacidade, pegar ônibus, ler placas e informativos cruciais para o cumprimento da rotina. Deve-se observar as motivações que o levam a escola pela primeira vez ou mais uma vez. A sensibilidade à estímulos internos também são distintas, tais como satisfação, auto-estima, qualidade de vida, enquanto crianças são estimuladas por outras razões, tais como boas notas e elogio de pais e professores. 
  
Motivadores do tema e intenções
  • Analisar qual a função social da escola na Educação de Jovens e Adultos, perante a dicotomia teoria-prática, identificando os propósitos da educação para este público na literatura oficial e comparando-os com a vivência escolar de educadores e educandos.
  • Averiguar o que as Leis determinam é de certa forma fácil descobrir, através da verificação das propostas oficiais que foram analisadas, comparando-as com a vivência escolar de educadores e educandos, a fim de compreender como se aproximam, se determinam modelos que são seguidos ou não e até que ponto. 
  • Analisar, no campo escolhido, se a educação contribui com o processo de transformação da consciência, no sentido da criticidade do educando, enquanto ser social e histórico. 
  • Identificar em que aspectos a escola pode ser considerada um espaço capaz de gerar práticas sociais que contribuam para tal transformação. (Para tanto foi preciso adentrar em questões como autonomia, emancipação dos sujeitos, seu senso crítico e suas perspectivas perante a realidade.)
Muito importante também para os autores, foi considerar as expectativas que educadores e educandos depositam na Educação de Jovens e Adultos. 

 Breve análise sobre abordagem EJA: A metodologia utilizada para o ensino de jovens e adultos deve ser estratégica, pois há uma distancia abismal entre o modelo pedagógico e o modelo andragógico. Antes de construir um planejamento de aula para jovens e adultos, são necessários alguns questionamentos práticos:
  • Como os jovens/adultos pensam?
  • Deve-se levar em consideração que, uma sala de aula de EJA é constituída por pessoas de diferentes gerações. Portanto, a importância de analisar o público. Como posso atender essa demanda distinta?
  • Tendencialmente, crianças arriscam mais em errar/acertar, aprendem mais facilmente. Para o público EJA, não é tão fácil, pois implica em sentimentos que podem comprometer o interesse acadêmico e dificultar o aprendizado. Como abordar esses alunos na prática sem causar constrangimento ou retraí-los?
  • Jovens e adultos tem metas precisas. Cabe ao educador refletir seus objetivos com as aulas dadas, mantendo o enfoque na formação de cidadãos conscientes, críticos e capazes de refletir, e não apenas ensinar a ler e escrever. Deve-se refletir, o que quero como educador alcançar com minhas aulas?
  • Investigar os anseios e sonhos do aluno de EJA, mesmo que de modo discreto para não constrangê-lo. Quais as motivações desse aluno? Pode ser resolução de problemas do cotidiano, crescimento profissional e acadêmico, etc. 
Fato! 
"A legislação propõe muito mais do que os alunos esperam e cumpre muito menos do que estes mesmos alunos têm direito."
EJA NA HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL: SÓ DEPOIS DE 1934... 
  • A Constituição Federal de 1934 é o primeiro documento que determina nacionalmente algo sobre a educação de adultos: Art 150  Compete à União: Parágrafo único 
a) ensino primário integral gratuito e de freqüência obrigatória extensiva aos adultos

Ainda que de forma quase imperceptível é onde se estabelece que a educação é gratuita, obrigatória e extensiva aos adultos. Explicitada  ainda como uma concessão. Pela primeira vez abre-se legalmente a brecha para se falar em Educação de Adultos. 
  • Pós Revolução de 1930 - a sociedade brasileira deu indícios de considerar a importância da educação também para os adultos, por muitas décadas, citados apenas como analfabetos.
 A revolução de 1930 foi um marco na reformulação do papel do estado no Brasil, profundas mudanças vinham acontecendo no país. Políticos e intelectuais estavam engajados na luta para reafirmar o Brasil como nação. Até aquela época prevalecia o federalismo, que reforçava os interesses das oligarquias regionais, porém a partir desse movimento a nação como um todo, estava sendo reafirmada. 
  • Década de 1940 - a União toma iniciativas pouco mais significativas, dando margem em seu discurso à educação de todos os adolescentes e adultos. Entre 1930-1945, houve a formação e a consolidação de um governo central, com iniciativas que trariam repercussões mais notáveis para a educação. 
  • A partir de 1945, segundo Beisiegel (1974), a UNESCO passou a influir diretamente nas políticas educacionais, trazendo contribuições quanto à expansão do ensino, da saúde e desenvolvimento social no Brasil.
  • Entre 1950 e 1964 houve espaço e tempo fértil para a disseminação das iniciativas educacionais verdadeiras, mais ligadas às necessidades da população, principalmente pela grande contribuição do método Paulo Freire, posto em prática em 1961, no Movimento de Cultura Popular em Recife e depois aceito pelos planos do Governo Federal e levado a outros estados, difundido com grande aceitação até ser interrompido pelas medidas tomadas após o Golpe Militar de 1964. 
  • Depois deste período, o governo militar instituiu o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que se expandiu por todo o país. Embora discreta e isoladamente, houveram iniciativas mais críticas no desenvolvimento e prática de métodos baseados em Paulo Freire, ligadas a sindicatos e instituições religiosas. Nesse período experiências legítimas de educação popular e educação de adultos foram mantendo-se sob sigilo, sem ampla divulgação até meados da década de 1980.
  • Com o fim da Ditadura Militar, a educação de adultos ganhou maior dimensão, até a extinção do MOBRAL em 1985. A partir daí,  muitas iniciativas em favor da expansão massiva do acesso à educação no Brasil, principalmente no final da década de 1990 em diante. Iniciativas inéditas na história da educação brasileira, motivadas ou até pressionadas por organizações internacionais (UNESCO, Banco Mundial) e as metas estabelecidas pelas mesmas. Houve em todo o mundo uma ampliação do conceito e prática da alfabetização, no sentido de considerá-la como formação, provida de muitos outros aspectos que não apenas a prática da leitura e escrita.

Um dos princípios mais difundidos para a EJA, na Proposta Curricular para Educação de Jovens e Adultos do Ministério da Educação – 1998: “a incorporação da cultura e da realidade vivencial dos educandos como conteúdo ou ponto de partida da prática educativa”. Princípio este que como muitos outros ainda não chegou de forma concreta e solidificada ás práticas diárias das salas de aula.

➽ É importante vivenciar uma nova experiência, testar novas concepções ou conjunto de conhecimentos. Porém aprendem melhor quando sentem-se valorizados e respeitados, ressaltando que a experiência de aprendizagem é ativa e não passiva, pois satisfaz necessidades. O aluno de EJA aceita ser responsável pelo seu aprendizado, que é auto-dirigido e significativo. A aprendizagem é direcionada à ideias, sentimentos e ações. Ex. de direção: auto-estima

Quantitativamente a EJA, (antes chamada apenas Educação de Adultos), teve muitos avanços; a facilidade de acesso à escola aumentou consideravelmente, 

Há projetos do Governo Federal, como o Brasil Alfabetizado: que começou a levar em consideração as especificidades deste público, como a elaboração de material didático próprio e significativo, uma metodologia não infantilizada

➽O material novo é relacionado com o que eles já sabem, e atenção ao ambiente de treinamento que contribui para a aprendizagem.

Realidade: mostra problemas muito maiores do que apenas o acesso à educação. 
  • As garantias das condições de permanência e da efetivação de uma educação crítica e conscientizadora, talvez precisem de mais um século para se efetivar, pois envolvem dimensões muito mais complexas que a elaboração de material didático e quantidade de matrículas. 
  • Discussões sobre a escolarização da população de jovens e adultos não são recentes, pois já há mais de meio século as idéias freireanas sobre a mesma ocupam espaço no cenário nacional e internacional. 
  • As discussões avançaram a ponto de hoje compreendermos na escolarização uma necessidade de formação dos sujeitos, embora as práticas educativas estejam caminhando mais lentamente que a velocidade das discussões, congressos e produções acadêmicas.


➤ EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: DICOTOMIA TEORIA-PRÁTICA 


➽ O ensino Andragógico deve começar pela organização da sala, o modo como as cadeiras devem estar arrumadas. É importante que essa organização facilite discussões, melhor posição em círculo ou semi-círculo, jamais em fileira.

➽ Método Socrático de Ensino - devolver a pergunta à classe, para que possam refletir a questão. Exemplo de pergunta: "Quem pode iniciar uma resposta?" Jamais fazer perguntas que causem inibição ou intimidação, como por exemplo: "Quem sabe a resposta?". E jamais, dizer que a resposta está errada, pois deve-se contornar a situação para que o aluno não fique embaraçado em frente aos outros.

Com base inicial em um breve histórico de EJA no Brasil, os autores descrevem que  as origens do caráter corretivo, são para ajuste sobre aquilo que a escola regular não fez. 

Perfil de público a ser atingido: o economicamente marginalizado. Todavia a EJA não representa propriamente numa sociedade neoliberal uma necessidade econômica e sim uma concessão, conseguida com muitas dificuldades. 

"Falta ainda a conscientização de que a EJA está incluída na Educação Básica e têm direitos garantidos por lei, mas ignorados na prática."


Constatações sobre a EJA:
  • Por longo tempo, vista como uma espécie de compensação, de reparação para com o público de adultos ainda não alfabetizados.
  • Possuía mais as características de pagamento por uma dívida social que se formou ao longo da história para com a camada mais pobre da população. Esta tradição foi alterada nos códigos legais na medida em que a Educação de Adultos, mediante muita reivindicação dos movimentos sociais, foi tornando-se direito de todos.
  • Deslocou-se a ideia de compensação para o campo da reparação e da equidade, mas equidade relativa. Pois muitos foram e ainda são impedidos de exercer seus direitos por fatores como a própria negação do direito à educação, e ainda hoje muitos sofrem as conseqüências desta realidade histórica.
  • A sociedade que valoriza cada vez mais a educação escolar como condição básica para o exercício da cidadania, o acesso ao mundo do trabalho e a apropriação e o exercício de um senso crítico que o permita exercer plenamente direitos políticos e sociais. Para tanto algumas políticas públicas no âmbito educacional vem dando bastante ênfase a ampliação do número de vagas no ensino fundamental. 

  • Há um aumento significativo na oferta de vagas, mas a média nacional de permanência na escola, para a etapa obrigatória (oito anos) fica entre quatro e seis anos. E os oito anos obrigatórios acabam por se converter em 11 anos, estendendo a duração do ensino fundamental quando os alunos já deveriam estar cursando o ensino médio. O resultado desta realidade é a repetência, a reprovação e a evasão escolar mantendo e aprofundando a distorção idade/série e consequentemente aumentando o número de pessoas que cedo ou tarde voltarão à escola como alunos da EJA.
Os autores do artigo consideram que:

"Ao analisarmos a proposta de documentos oficias para a Educação de Jovens e Adultos constatamos que a mesma, teoricamente, deve levar em consideração a proposta de formação de um ser critico e capaz de trilhar seus próprios caminhos. Para tanto seria necessário que a educação estivesse cumprindo o papel de possibilitar aos educandos a aquisição de conhecimentos e habilidades necessários ao exercício da cidadania, preparação para o mundo do trabalho e para uma participação critica na vida política."

Segundo Freire (1980, p.20) “uma educação deve preparar, ao mesmo tempo, para um juízo critico das alternativas propostas pela elite, e dar a possibilidade de escolher o próprio caminho”.

O QUE OCORRE NA PRÁTICA?


A educação tem cumprido uma função paliativa, pois busca produzir números que apareçam nas estatísticas. Em segundo plano é deixada uma proposta concreta que venha a efetivamente nortear a Educação de Jovens e Adultos, oferecendo aos sujeitos deste processo a possibilidade de se reconhecer como cidadãos e de possuir ferramentas que os permita construir seu senso critico, sua formação como seres conscientes do seu papel social. Além de terem a possibilidade de uma reconstrução do seu próprio mundo como ponto de partida para a formação de uma consciência libertadoraHouve evolução em termos de legislação, a educação que cria e garante oportunidades ainda atinge a minoria da população. 

Quem precisa da EJA? 
Aqueles que desde criança precisaram parar de estudar para trabalhar em período integral, com certeza não têm nem a mesma formação nem as mesmas oportunidades de concluir o Ensino Fundamental e Médio, ingressar no Ensino Superior e simultaneamente à formação escolar, ter acesso a uma formação cultural ampla. Nesta perspectivas percebemos que EJA abarca pessoas que fugiram à “regra” do que a legislação propõe para a educação. Mais do que fugirem à regra, ficaram à margem do que determinam as leis com relação a direitos para todos.

 As reais necessidades de aprendizagem dos alunos da EJA são referentes à resolução ou melhoria na situação cotidiana, pois eles já tem um leque de problemas, tais como família para sustentar, manter ou conseguir novo emprego, ganhar mais, etc.A maioria entra na EJA para aprender a ler e escrever, raros seguem estudando. O esforço do professor/educador será um grande diferencial para que esse aluno avance.

Na afirmação inicial da hipótese dos autores, a educação se propõe a formar para a cidadania. Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira “cidadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cidadão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”

Refletindo esse parâmetro de definição sobre cidadania, os alunos de EJA ainda não conseguiram obter esse patamar. Os autores consideram que pode-se partir de uma definição teórica, mas é necessário que o conceito seja vivenciado, que as pessoas o entendam de fato e identifiquem-se com tal definição em suas vidas. 

A Constituição Federal (1988) garante acesso de todos à educação, mas devido a desigualdades sociais, a exclusão e aos complexos processos de marginalização pelos quais ainda passa grande parte da população é preciso que haja outra lei, para garantir que, os que foram excluídos dos direitos “garantidos” pela primeira, sejam atendidos pela segunda. 

É o caso da Lei 9394/96, que prevê oportunidades e mais garantias, quando na prática;
  • Ainda vemos o aluno da EJA indo à escola com o objetivo de responder a demandas sociais, as quais não o incluem mais como ser produtivo. Demandas das quais nem ele se dá por conta. 
  • Seja um aumento no número de vagas promovido pelas políticas educacionais, seja a necessidade de melhorar os índices de desenvolvimento da população, ele é numericamente incluído, mas ainda não tomou consciência do que o leva até ali, do que esperar disso para si e para a sua comunidade. 
"É neste sentido que os autores questionam sobre qual a real função social da educação para a EJA."
 Segundo Barroso: "Atualmente, a função social da escola é residual e não está conseguindo cumprir com o seu papel (...). Nesse contexto, se discute as possibilidades de estabelecer uma outra relação entre a escola e o local, pois pode dar um novo sentido e significado a essa instituição e contribuir para reinvenção de outra regulação e organização. Esse é o grande desafio que se coloca, atualmente, para combater a exclusão e a segregação interna e externa dos indivíduos."
Reflexão dos autores: Barroso nos fala sobre reinvenção e um novo sentido a este modelo de escola que, segundo ele, não tem cumprido seu papel, que para nós não pode ser outro a não ser formar um cidadão crítico, consciente de seu papel na sociedade e ativo, com poder de reflexão e decisão. Espera-se que seja ampla esta função social, bastante complexa como em todas as definições que encontramos, mas, ao que pesquisamos, a função social tem-se resumido a alfabetização, a processos burocráticos e didáticos de elevação do tempo de permanência da população na escola. A visão encontrada não passa ainda pela formação humana e do cidadão pensante.

Função social da escola ou da educação escolar:
  • Função social como sua razão de ser, pois em Vieira vemos que “sempre que a sociedade defronta-se com mudanças significativas em suas bases sociais e tecnológicas, novas atribuições passam a ser exigidas à escola”.(VIEIRA 2002, pág 13). 
  • Nossa sociedade já passou e passa por muitas mudanças, por isso a importância de questionarmos que função a escola está cumprindo nesta sociedade e principalmente se os sujeitos da escola têm noção sobre esta função.
Que função social cumpre a escola para a EJA?" Nossa pesquisa não pretende encontrar a resposta, mesmo porque sob diversos aspectos as respostas são muitas e variam de acordo com a demanda da sociedade." 

A ESCOLA E AS  PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DA EJA

O papel da escola ainda está na fase de dar oportunidade de escolarização básica aos que não tiveram oportunidade na fase própria. Ainda enfrenta problemas de ordem física, espacial, de acomodação dos alunos, de adequação do mobiliário e da evasão. O levantamento teórico obteve como resultado da pesquisa, a existência de um alto índice de evasão nas turmas de EJA. 

Reportagem da Revista Nova Escola edição 172 de mai/2004: Apresenta dados do Ministério da Educação, os quais informa que menos de 30% dos alunos concluem o curso na EJA.

Razões de evasão: 

  • Principalmente pelo uso de material didático inadequado para a faixa etária, 
  • Conteúdos sem significado
  • Metodologias infantilizadas, aplicadas por professores despreparados 
  • Horários de aula que não respeitam a rotina de quem trabalha e estuda
  • Não se levar em conta às particularidades deste público. 

Conclui-se com esses dados que a prática exercida na Educação de Jovens e Adultos não condiz com as propostas existentes para a mesma. 

A proposta da LDB (Lei n. 9.394/96), em seu artigo 1º: refere-se aos princípios norteadores da educação e estimula a criação de propostas alternativas para promover a igualdade de condições para o acesso e permanência do aluno no processo educativo, a utilização de concepções pedagógicas que valorizem a experiência extra-escolar e a vinculação com o trabalho e com as praticas sociais. Tal parecer sugere segundo Pinheiro “propostas pedagógicas concretas e mais próximas da realidade” (1999, p.29).

 A proposição de diálogos sobre campo de atuação profissional, o mundo do trabalho, sobre a vida. Dialogar conteúdo histórico, legislativo e informativo. Avaliar sempre o interesse e o progresso. Estimular a reflexão, argumentação, de modo a perceber evolução, inclusive no comportamento. Exemplo disso, há os mais reservados que se tornam participativos, o que é uma enorme evolução por vencer o medo da exposição.

De acordo com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais a Educação de Jovens e Adultos deve ser pensada como um modelo pedagógico próprio, com o objetivo de criar situações de ensino-aprendizagem adequadas às necessidades educacionais de jovens e adultos, englobando as três funções: a reparadora, a equalizadora e a permanente, citadas no Parecer 11/00 da CEB/CNE.

  • De acordo com tal parecer, a função reparadora significa a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade e o reconhecimento de igualdade de todo e qualquer ser humano.
  • A função equalizadora dará cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos da sociedade possibilitando–lhes a reentrada no sistema educacional. Finalmente, a Educação de Jovens e Adultos deve ser vista como uma promessa de qualificação de vida para todos, propiciando a atualização de conhecimentos por toda a vida. 
  • A função permanente da Educação de Jovens e Adultos, não apenas alfabetizar, engrossar índices e estatísticas, mas reconhecer os cidadãos que nela se matriculam e permitir, de fato, que acumulem ferramentas para o exercício da cidadania.
É importante ressaltar que a educação destinada a jovens e adultos por si só já apresenta características peculiares. 

É uma modalidade de ensino que se destina as pessoas, que pelos mais diversos motivos, entre eles condições sociais adversas associadas à falta de políticas de planejamento eficazes na esfera escolar, não concluíram a escolaridade básica na “idade própria”.

Por este mesmo motivo é imprescindível que exista uma prática voltada para a realidade do educando, considerado tal ação necessária para que seja possível o acesso e permanência dos alunos, assim como o desenvolvimento dos propósitos a eles destinados.

 Deve pensar em como articular os conhecimentos prévios frente aos disseminados pela cultura escolar. Primeiramente, articular os conhecimentos trazidos pelo aluno de EJA, de sua vivência e sua visão de mundo. Valorizar seus conhecimentos, estimular o que já sabem associando com os novos conhecimentos explorados em sala de aula. Através do diálogo nem puramente academicista e nem puramente instrumental, buscar equilíbrio acolhendo o sujeito. É preciso reinventar a didática cotidiana para a organização do trabalho pedagógico.

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