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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Educação, educadores e meus pensamentos (Gigolô das Palavras - Veríssimo)


O gigolô das palavras - Luís Fernando Veríssimo

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua.
Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão !”).
Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasseEles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios.
Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo?
O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.)
A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro.
As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria.
Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção.
A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.


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O escritor Luís Fernando Veríssimo demonstra em sua fala (no texto "Gigolô das palavras"), que a linguagem não é apenas mero meio de comunicação, ele manipula livremente as palavras conforme seu prazer e necessidade, mesmo admitindo não conhecer a gramática a fundo. Porém, entre tantas regras, creio ser quase impossível apossar-se por completo deste conhecimento metalinguístico. Caso fosse fácil, professores teriam domínio da gramática na sua totalidade e passariam aos seus alunos o conhecimento de um modo menos sofrível. Há regras em que podemos criar associações e analogias, facilitando o aprendizado. Mas e aquelas que o único caminho se dá por intermédio da memorização? 

Educadores, temos que ser criativos e produtivos, nossos educandos não tem o mesmo nível de conhecimento entre si e nem a mesma facilidade de compreensão. Cada um é cada um! Não adianta fazer de conta que todos saíram da mesma fôrma e estão prontos para reproduzir o que é dito na sala. Bem, ai vem a questão sobre tempo e rotina, compreendo e sei que será um desafio brutal! Precisamos seguir com os conteúdos, temos provas a aplicar... mas é a isso que a nossa educação é resumida? Seguir o tradicionalismo e a formalidades de séculos quando tudo está em processo de mudança contínua? Dar conteúdo em sala, avaliar, reprovar ou aprovar? 

Precisamos sair do "normal", "da velha casinha"... Sei que a remuneração é ínfima (para não dizer ridícula), os incentivos aos educadores quase inexistentes, horas quase infinitas de trabalho sem reconhecimento ou status, mas quando optamos pela educação no Brasil (pedagogia, letras e afins) sabemos de tudo isso! Ou alguém acreditou em passe de mágica? Todavia, já que a escolha pela área foi feita, será que é tão doloroso usar alguns minutos para pesquisar novas modalidades ou ideias sobre práticas pedagógicas que estão dando certo em algum lugar do mundo, beneficiando outros humanos, ao invés de usar esses mesmos minutos para falar mal do povo no what´s app, focar no problema alheio e criticar a roupa das sub-celebs? Sejamos altruístas, pelo menos de vez em quando! Se temos capacidade de atravessar ruas digitando e lendo no celular, ler e responder mensagens de texto dirigindo, nos atualizar de informações alheias em tempo integral, virar a noite em bate-papo "cazamiga" e muitas vezes enchendo a cara lamentando o fora do ex, por que não uma olhadinha no mundo virtual a favor da educação?

Qual a sua concepção de ensino? 

Que tipo de aluno você deseja formar? 

Qual seu compromisso com a educação?

Não estou aqui para atrair haters ou aporrinhar aqueles sem propósito de mudanças e nem para afrontar ninguém com meus monólogos. Tenho um propósito no âmbito de Educação, assumi um compromisso comigo mesma que é o mais importante. Se eu conseguir tocar de algum modo outros educadores ou futuros educadores a refletirem sua conduta, que bom! Caso seja indiferente? E daí? Tenho que ter fidelidade naquilo que acredito, que apesar das barreiras internas proporcionadas pela minha vivência, continuo seguindo... pulando os muros invisíveis que minha mente me obriga a saltar constantemente e prossigo desviando das montanhas do meu caminho. Outras barreiras, tais como apoio das políticas públicas para fazer acontecer a educação de qualidade com intuito de formar cidadãos é óbvio que espero isso. Mas se o trabalho de formiguinha não acontecer, como será nosso futuro, o de nossos filhos e netos? Tudo parte de uma mudança interna, o país está estraçalhado com a corrupção e nem protestos existem mais...é assim, está tudo bem? 

Sem empoderar as pessoas através do conhecimento, teremos apenas mais sujeitos sem sonhos, acreditando alienadamente que aquela vidinha (baixo salário, misérias, sem esperança, etc) é a única que pode ter e que o voto é apenas mera obrigação formal. 

Se, nós educadores, não  formos os instrumentos de mudança, o que vai ser desse Brasil?
Tudo começa pela educação!

Sem mais delongas!




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