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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Dica: Apresentação de trabalho sobre ECA com RENDERFOREST




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Educação, educadores e meus pensamentos (Gigolô das Palavras - Veríssimo)


O gigolô das palavras - Luís Fernando Veríssimo

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua.
Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão !”).
Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasseEles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios.
Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo?
O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.)
A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro.
As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria.
Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção.
A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.


********

O escritor Luís Fernando Veríssimo demonstra em sua fala (no texto "Gigolô das palavras"), que a linguagem não é apenas mero meio de comunicação, ele manipula livremente as palavras conforme seu prazer e necessidade, mesmo admitindo não conhecer a gramática a fundo. Porém, entre tantas regras, creio ser quase impossível apossar-se por completo deste conhecimento metalinguístico. Caso fosse fácil, professores teriam domínio da gramática na sua totalidade e passariam aos seus alunos o conhecimento de um modo menos sofrível. Há regras em que podemos criar associações e analogias, facilitando o aprendizado. Mas e aquelas que o único caminho se dá por intermédio da memorização? 

Educadores, temos que ser criativos e produtivos, nossos educandos não tem o mesmo nível de conhecimento entre si e nem a mesma facilidade de compreensão. Cada um é cada um! Não adianta fazer de conta que todos saíram da mesma fôrma e estão prontos para reproduzir o que é dito na sala. Bem, ai vem a questão sobre tempo e rotina, compreendo e sei que será um desafio brutal! Precisamos seguir com os conteúdos, temos provas a aplicar... mas é a isso que a nossa educação é resumida? Seguir o tradicionalismo e a formalidades de séculos quando tudo está em processo de mudança contínua? Dar conteúdo em sala, avaliar, reprovar ou aprovar? 

Precisamos sair do "normal", "da velha casinha"... Sei que a remuneração é ínfima (para não dizer ridícula), os incentivos aos educadores quase inexistentes, horas quase infinitas de trabalho sem reconhecimento ou status, mas quando optamos pela educação no Brasil (pedagogia, letras e afins) sabemos de tudo isso! Ou alguém acreditou em passe de mágica? Todavia, já que a escolha pela área foi feita, será que é tão doloroso usar alguns minutos para pesquisar novas modalidades ou ideias sobre práticas pedagógicas que estão dando certo em algum lugar do mundo, beneficiando outros humanos, ao invés de usar esses mesmos minutos para falar mal do povo no what´s app, focar no problema alheio e criticar a roupa das sub-celebs? Sejamos altruístas, pelo menos de vez em quando! Se temos capacidade de atravessar ruas digitando e lendo no celular, ler e responder mensagens de texto dirigindo, nos atualizar de informações alheias em tempo integral, virar a noite em bate-papo "cazamiga" e muitas vezes enchendo a cara lamentando o fora do ex, por que não uma olhadinha no mundo virtual a favor da educação?

Qual a sua concepção de ensino? 

Que tipo de aluno você deseja formar? 

Qual seu compromisso com a educação?

Não estou aqui para atrair haters ou aporrinhar aqueles sem propósito de mudanças e nem para afrontar ninguém com meus monólogos. Tenho um propósito no âmbito de Educação, assumi um compromisso comigo mesma que é o mais importante. Se eu conseguir tocar de algum modo outros educadores ou futuros educadores a refletirem sua conduta, que bom! Caso seja indiferente? E daí? Tenho que ter fidelidade naquilo que acredito, que apesar das barreiras internas proporcionadas pela minha vivência, continuo seguindo... pulando os muros invisíveis que minha mente me obriga a saltar constantemente e prossigo desviando das montanhas do meu caminho. Outras barreiras, tais como apoio das políticas públicas para fazer acontecer a educação de qualidade com intuito de formar cidadãos é óbvio que espero isso. Mas se o trabalho de formiguinha não acontecer, como será nosso futuro, o de nossos filhos e netos? Tudo parte de uma mudança interna, o país está estraçalhado com a corrupção e nem protestos existem mais...é assim, está tudo bem? 

Sem empoderar as pessoas através do conhecimento, teremos apenas mais sujeitos sem sonhos, acreditando alienadamente que aquela vidinha (baixo salário, misérias, sem esperança, etc) é a única que pode ter e que o voto é apenas mera obrigação formal. 

Se, nós educadores, não  formos os instrumentos de mudança, o que vai ser desse Brasil?
Tudo começa pela educação!

Sem mais delongas!




segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Concepções de linguagem





Recapitulação de uma das primeiras aulas de Fundamentos Teóricos Metodológicos da Língua Portuguesa.

O professor bem capacitado sabe usar a linguagem a seu favor e à favor de seus alunos. As diferentes configurações no ensino da língua dependem da concepção de linguagem. É imprescindível que o professor conheça as diferenças entre os tipos de concepções de linguagem, para que esteja ciente de sua prática e de qual tipo de aluno deseja formar. 
  • Linguagem como expressão de pensamento - quem fala ou escreve errado não sabe pensar.
  • Linguagem como um instrumento de comunicação - apenas decodifica códigos.
Esses dois primeiros conceitos são limitados, restritivos e ultrapassados.

O enfoque sócio-interacionista: Aula pautada em textos


Como recusa à alienação do tradicionalismo, o professor que elege a prática da concepção interacional da linguagem, acolhe estas variedades linguísticas sem preconceito, respeitando-as sem críticas para não bloquear o aprendizado, pois são úteis à comunicação e interação social, com isso ressalta-se a ideia de que o mundo da cognição e o mundo da vida estão interligados e influenciam-se mutuamente (BAKHTIN, 2002).

A concepção interacionista é utilizada desde o século passado por ser uma forma eficiente de formar um sujeito crítico, pois através da leitura de textos com ênfase em análise de conteúdo, é possível compreender além das entrelinhas e de mera interpretação, e mais, possibilita também o reconhecimento da estrutura dos diversos tipos textuais, comparações de ideias, além de troca de impressões com terceiros.

A consolidação do hábito de ler desde a educação infantil, trabalhando sempre com temas diversificados, remete a formação tanto de bons leitores quanto de bons escritores. Pois o estímulo a leitura em consonância com a prática interacionista favorece a evolução na forma da escrita proporcionando o desenvolvimento de um estilo próprio e incorporação de novo vocabulário.

Portanto, o professor que opta pela concepção de linguagem interacionista deve atuar como mediador no processo ensino-aprendizagem, todavia considerar que a escola é um espaço privilegiado de aprendizagem associado ao contexto sócio-histórico-cultural e à subjetividade dos alunos.Sendo assim, é fato que não existe linguagem dissociada do ser humano, pois esta existe para ele e por ele, é o que o diferencia.

A função social da Escola na EJA. Escola; Pra quê te querem?


Mais um artigo sobre Educação para Jovens e Adultos a ser trabalhado, com intuito de aprofundar os conhecimentos quanto ao assunto, na perspectiva dos autores citados abaixo.

Autores do artigo: Fernanda Maria da Silva¹, Marina Andretta Barbosa ² e Xavier Uytdenbroek ³

Principal objetivo: Analisar a função social que cumpre a escola para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), a partir da comparação da legislação educacional vigente e a prática vivenciada por educadores e educandos. Perante a dicotomia teoria-prática, buscaram identificar propósitos da educação para este público na literatura oficial.

A pesquisa realizada por intermédio de abordagem qualitativa - análise das propostas educacionais na legislação brasileira seguida de uma pesquisa de campo na qual foram utilizados como procedimentos metodológicos observações e entrevistas com alunos e professores de duas escolas da Prefeitura Municipal do Recife. 

Com base nos documentos formais, tais como, Lei 9394/96 (LDB/96), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o Plano Nacional de Educação 2001 e a Constituição Federal de 1988, no que dizem respeito à Educação de Jovens e Adultos (EJA): oficialmente, a função social qual a EJA se propõe a cumprir é a de preparar jovens e adultos, através de oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, possibilitar aos educandos aquisição de conhecimentos e habilidades necessários ao exercício da cidadania, preparação para o mundo do trabalho e participação crítica na vida política.

Orientação prática:

➽ EJA - Política Pública comprometidas com transformações estruturais e bancada pelo Estado. Com intenções éticas, políticas, culturais e sociais em curto, médio e longo prazo, que requer qualidade, profissionais qualificados e o seu desenvolvimento é como de um projeto social. É fundamental para todas as idades, pois ainda há um grande contingente de analfabetos no Brasil, o que remete a um processo de exclusão social. E tem como princípios: ler, escrever, interpretar.

➽ É uma política de inserção auto-sustentável. A EJA é um projeto estratégico e tático de Educação Nacional e tecnológica para formação de um sujeito com autonomia intelectual.

"A educação de jovens e adultos, visando a transformação necessária, com o objetivo de cumprir de maneira satisfatória sua função de preparar jovens e adultos para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho, necessita de mudanças significativas." (PCNs)

Essas mudanças estão acontecendo? Sob o ponto de vista dos autores: em sua maioria ainda estão por se concretizar. Essas mudanças foram norteadas pelos valores apresentados na Conferência Internacional de Hamburgo, na Lei 9394/96, no Parecer CEB 11/00, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos e na Deliberação 08/00 CEB. 

Na observação prática, na pesquisa de campo, os autores observaram: o propósito destinado a EJA continua cumprindo uma função paliativa, que na maioria das vezes abrange apenas os processos de alfabetização do educando, ao contrário do que orienta o PNE 2001, que faz referência não só a alfabetização mas também aos aspectos de formação do educando enquanto cidadão: 

"A alfabetização dessa população seja entendida como no sentido amplo de domínio dos instrumentos básicos da cultura letrada, das operações matemáticas elementares, da evolução histórica da sociedade humana, da diversidade do espaço físico e político mundial e da constituição da sociedade brasileira. Envolve ainda a formação do cidadão responsável e consciente de seus direitos e deveres."

O Plano Nacional de Educação 2001 mostra uma distorção grave entre os propósitos teóricos e práticos da EJA.

Observou-se que, o público que frequenta as salas de EJA tem muita vontade de aprender, alguns demonstram uma verdadeira sede por conhecimentos novos, reconhece a importância da educação para a formação do individuo, a importância da cultura letrada, entre outras coisas.

E na prática?  Tais fatores não são suficientes para a efetivação da função social que a EJA se propõe a cumprir. Na prática esta função passa por oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho. Porém a realidade vivenciada pelo alunado não parece ser tão levada em consideração como prevê a legislação.

Quanto ao acesso à EJA? Os problemas são muito mais complexos, apesar da melhoria nos índices, segundo declarações inscritas no texto. 

Importantes observações 
  • Não basta estar na escola, é preciso ter garantidos os direitos de acesso e permanência, condições dignas de estudo e ensino, práticas docentes que incentivem a reflexão e a formação cidadã, através de conteúdos significativos para este público.
  • É preciso que os sujeitos tenham plena consciência sobre que papel desempenha a escola em suas vidas, até mesmo sobre a real serventia deste modelo de escola perante suas demandas sociais, para que possam ter clareza sobre o que os traz novamente ou pela primeira vez à escola.
➽ As motivações de jovens e adultos são diferentes da motivações infantis. Para criança, há necessidade de um currículo padronizado e extenso, mas os adultos necessitam de conteúdos de aplicação prática para a vida diária e para resolução de problemas. Bons exemplos de triunfos adquiridos com a EJA é a independência de ler e escrever com privacidade, pegar ônibus, ler placas e informativos cruciais para o cumprimento da rotina. Deve-se observar as motivações que o levam a escola pela primeira vez ou mais uma vez. A sensibilidade à estímulos internos também são distintas, tais como satisfação, auto-estima, qualidade de vida, enquanto crianças são estimuladas por outras razões, tais como boas notas e elogio de pais e professores. 
  
Motivadores do tema e intenções
  • Analisar qual a função social da escola na Educação de Jovens e Adultos, perante a dicotomia teoria-prática, identificando os propósitos da educação para este público na literatura oficial e comparando-os com a vivência escolar de educadores e educandos.
  • Averiguar o que as Leis determinam é de certa forma fácil descobrir, através da verificação das propostas oficiais que foram analisadas, comparando-as com a vivência escolar de educadores e educandos, a fim de compreender como se aproximam, se determinam modelos que são seguidos ou não e até que ponto. 
  • Analisar, no campo escolhido, se a educação contribui com o processo de transformação da consciência, no sentido da criticidade do educando, enquanto ser social e histórico. 
  • Identificar em que aspectos a escola pode ser considerada um espaço capaz de gerar práticas sociais que contribuam para tal transformação. (Para tanto foi preciso adentrar em questões como autonomia, emancipação dos sujeitos, seu senso crítico e suas perspectivas perante a realidade.)
Muito importante também para os autores, foi considerar as expectativas que educadores e educandos depositam na Educação de Jovens e Adultos. 

 Breve análise sobre abordagem EJA: A metodologia utilizada para o ensino de jovens e adultos deve ser estratégica, pois há uma distancia abismal entre o modelo pedagógico e o modelo andragógico. Antes de construir um planejamento de aula para jovens e adultos, são necessários alguns questionamentos práticos:
  • Como os jovens/adultos pensam?
  • Deve-se levar em consideração que, uma sala de aula de EJA é constituída por pessoas de diferentes gerações. Portanto, a importância de analisar o público. Como posso atender essa demanda distinta?
  • Tendencialmente, crianças arriscam mais em errar/acertar, aprendem mais facilmente. Para o público EJA, não é tão fácil, pois implica em sentimentos que podem comprometer o interesse acadêmico e dificultar o aprendizado. Como abordar esses alunos na prática sem causar constrangimento ou retraí-los?
  • Jovens e adultos tem metas precisas. Cabe ao educador refletir seus objetivos com as aulas dadas, mantendo o enfoque na formação de cidadãos conscientes, críticos e capazes de refletir, e não apenas ensinar a ler e escrever. Deve-se refletir, o que quero como educador alcançar com minhas aulas?
  • Investigar os anseios e sonhos do aluno de EJA, mesmo que de modo discreto para não constrangê-lo. Quais as motivações desse aluno? Pode ser resolução de problemas do cotidiano, crescimento profissional e acadêmico, etc. 
Fato! 
"A legislação propõe muito mais do que os alunos esperam e cumpre muito menos do que estes mesmos alunos têm direito."
EJA NA HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL: SÓ DEPOIS DE 1934... 
  • A Constituição Federal de 1934 é o primeiro documento que determina nacionalmente algo sobre a educação de adultos: Art 150  Compete à União: Parágrafo único 
a) ensino primário integral gratuito e de freqüência obrigatória extensiva aos adultos

Ainda que de forma quase imperceptível é onde se estabelece que a educação é gratuita, obrigatória e extensiva aos adultos. Explicitada  ainda como uma concessão. Pela primeira vez abre-se legalmente a brecha para se falar em Educação de Adultos. 
  • Pós Revolução de 1930 - a sociedade brasileira deu indícios de considerar a importância da educação também para os adultos, por muitas décadas, citados apenas como analfabetos.
 A revolução de 1930 foi um marco na reformulação do papel do estado no Brasil, profundas mudanças vinham acontecendo no país. Políticos e intelectuais estavam engajados na luta para reafirmar o Brasil como nação. Até aquela época prevalecia o federalismo, que reforçava os interesses das oligarquias regionais, porém a partir desse movimento a nação como um todo, estava sendo reafirmada. 
  • Década de 1940 - a União toma iniciativas pouco mais significativas, dando margem em seu discurso à educação de todos os adolescentes e adultos. Entre 1930-1945, houve a formação e a consolidação de um governo central, com iniciativas que trariam repercussões mais notáveis para a educação. 
  • A partir de 1945, segundo Beisiegel (1974), a UNESCO passou a influir diretamente nas políticas educacionais, trazendo contribuições quanto à expansão do ensino, da saúde e desenvolvimento social no Brasil.
  • Entre 1950 e 1964 houve espaço e tempo fértil para a disseminação das iniciativas educacionais verdadeiras, mais ligadas às necessidades da população, principalmente pela grande contribuição do método Paulo Freire, posto em prática em 1961, no Movimento de Cultura Popular em Recife e depois aceito pelos planos do Governo Federal e levado a outros estados, difundido com grande aceitação até ser interrompido pelas medidas tomadas após o Golpe Militar de 1964. 
  • Depois deste período, o governo militar instituiu o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que se expandiu por todo o país. Embora discreta e isoladamente, houveram iniciativas mais críticas no desenvolvimento e prática de métodos baseados em Paulo Freire, ligadas a sindicatos e instituições religiosas. Nesse período experiências legítimas de educação popular e educação de adultos foram mantendo-se sob sigilo, sem ampla divulgação até meados da década de 1980.
  • Com o fim da Ditadura Militar, a educação de adultos ganhou maior dimensão, até a extinção do MOBRAL em 1985. A partir daí,  muitas iniciativas em favor da expansão massiva do acesso à educação no Brasil, principalmente no final da década de 1990 em diante. Iniciativas inéditas na história da educação brasileira, motivadas ou até pressionadas por organizações internacionais (UNESCO, Banco Mundial) e as metas estabelecidas pelas mesmas. Houve em todo o mundo uma ampliação do conceito e prática da alfabetização, no sentido de considerá-la como formação, provida de muitos outros aspectos que não apenas a prática da leitura e escrita.

Um dos princípios mais difundidos para a EJA, na Proposta Curricular para Educação de Jovens e Adultos do Ministério da Educação – 1998: “a incorporação da cultura e da realidade vivencial dos educandos como conteúdo ou ponto de partida da prática educativa”. Princípio este que como muitos outros ainda não chegou de forma concreta e solidificada ás práticas diárias das salas de aula.

➽ É importante vivenciar uma nova experiência, testar novas concepções ou conjunto de conhecimentos. Porém aprendem melhor quando sentem-se valorizados e respeitados, ressaltando que a experiência de aprendizagem é ativa e não passiva, pois satisfaz necessidades. O aluno de EJA aceita ser responsável pelo seu aprendizado, que é auto-dirigido e significativo. A aprendizagem é direcionada à ideias, sentimentos e ações. Ex. de direção: auto-estima

Quantitativamente a EJA, (antes chamada apenas Educação de Adultos), teve muitos avanços; a facilidade de acesso à escola aumentou consideravelmente, 

Há projetos do Governo Federal, como o Brasil Alfabetizado: que começou a levar em consideração as especificidades deste público, como a elaboração de material didático próprio e significativo, uma metodologia não infantilizada

➽O material novo é relacionado com o que eles já sabem, e atenção ao ambiente de treinamento que contribui para a aprendizagem.

Realidade: mostra problemas muito maiores do que apenas o acesso à educação. 
  • As garantias das condições de permanência e da efetivação de uma educação crítica e conscientizadora, talvez precisem de mais um século para se efetivar, pois envolvem dimensões muito mais complexas que a elaboração de material didático e quantidade de matrículas. 
  • Discussões sobre a escolarização da população de jovens e adultos não são recentes, pois já há mais de meio século as idéias freireanas sobre a mesma ocupam espaço no cenário nacional e internacional. 
  • As discussões avançaram a ponto de hoje compreendermos na escolarização uma necessidade de formação dos sujeitos, embora as práticas educativas estejam caminhando mais lentamente que a velocidade das discussões, congressos e produções acadêmicas.


➤ EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: DICOTOMIA TEORIA-PRÁTICA 


➽ O ensino Andragógico deve começar pela organização da sala, o modo como as cadeiras devem estar arrumadas. É importante que essa organização facilite discussões, melhor posição em círculo ou semi-círculo, jamais em fileira.

➽ Método Socrático de Ensino - devolver a pergunta à classe, para que possam refletir a questão. Exemplo de pergunta: "Quem pode iniciar uma resposta?" Jamais fazer perguntas que causem inibição ou intimidação, como por exemplo: "Quem sabe a resposta?". E jamais, dizer que a resposta está errada, pois deve-se contornar a situação para que o aluno não fique embaraçado em frente aos outros.

Com base inicial em um breve histórico de EJA no Brasil, os autores descrevem que  as origens do caráter corretivo, são para ajuste sobre aquilo que a escola regular não fez. 

Perfil de público a ser atingido: o economicamente marginalizado. Todavia a EJA não representa propriamente numa sociedade neoliberal uma necessidade econômica e sim uma concessão, conseguida com muitas dificuldades. 

"Falta ainda a conscientização de que a EJA está incluída na Educação Básica e têm direitos garantidos por lei, mas ignorados na prática."


Constatações sobre a EJA:
  • Por longo tempo, vista como uma espécie de compensação, de reparação para com o público de adultos ainda não alfabetizados.
  • Possuía mais as características de pagamento por uma dívida social que se formou ao longo da história para com a camada mais pobre da população. Esta tradição foi alterada nos códigos legais na medida em que a Educação de Adultos, mediante muita reivindicação dos movimentos sociais, foi tornando-se direito de todos.
  • Deslocou-se a ideia de compensação para o campo da reparação e da equidade, mas equidade relativa. Pois muitos foram e ainda são impedidos de exercer seus direitos por fatores como a própria negação do direito à educação, e ainda hoje muitos sofrem as conseqüências desta realidade histórica.
  • A sociedade que valoriza cada vez mais a educação escolar como condição básica para o exercício da cidadania, o acesso ao mundo do trabalho e a apropriação e o exercício de um senso crítico que o permita exercer plenamente direitos políticos e sociais. Para tanto algumas políticas públicas no âmbito educacional vem dando bastante ênfase a ampliação do número de vagas no ensino fundamental. 

  • Há um aumento significativo na oferta de vagas, mas a média nacional de permanência na escola, para a etapa obrigatória (oito anos) fica entre quatro e seis anos. E os oito anos obrigatórios acabam por se converter em 11 anos, estendendo a duração do ensino fundamental quando os alunos já deveriam estar cursando o ensino médio. O resultado desta realidade é a repetência, a reprovação e a evasão escolar mantendo e aprofundando a distorção idade/série e consequentemente aumentando o número de pessoas que cedo ou tarde voltarão à escola como alunos da EJA.
Os autores do artigo consideram que:

"Ao analisarmos a proposta de documentos oficias para a Educação de Jovens e Adultos constatamos que a mesma, teoricamente, deve levar em consideração a proposta de formação de um ser critico e capaz de trilhar seus próprios caminhos. Para tanto seria necessário que a educação estivesse cumprindo o papel de possibilitar aos educandos a aquisição de conhecimentos e habilidades necessários ao exercício da cidadania, preparação para o mundo do trabalho e para uma participação critica na vida política."

Segundo Freire (1980, p.20) “uma educação deve preparar, ao mesmo tempo, para um juízo critico das alternativas propostas pela elite, e dar a possibilidade de escolher o próprio caminho”.

O QUE OCORRE NA PRÁTICA?


A educação tem cumprido uma função paliativa, pois busca produzir números que apareçam nas estatísticas. Em segundo plano é deixada uma proposta concreta que venha a efetivamente nortear a Educação de Jovens e Adultos, oferecendo aos sujeitos deste processo a possibilidade de se reconhecer como cidadãos e de possuir ferramentas que os permita construir seu senso critico, sua formação como seres conscientes do seu papel social. Além de terem a possibilidade de uma reconstrução do seu próprio mundo como ponto de partida para a formação de uma consciência libertadoraHouve evolução em termos de legislação, a educação que cria e garante oportunidades ainda atinge a minoria da população. 

Quem precisa da EJA? 
Aqueles que desde criança precisaram parar de estudar para trabalhar em período integral, com certeza não têm nem a mesma formação nem as mesmas oportunidades de concluir o Ensino Fundamental e Médio, ingressar no Ensino Superior e simultaneamente à formação escolar, ter acesso a uma formação cultural ampla. Nesta perspectivas percebemos que EJA abarca pessoas que fugiram à “regra” do que a legislação propõe para a educação. Mais do que fugirem à regra, ficaram à margem do que determinam as leis com relação a direitos para todos.

 As reais necessidades de aprendizagem dos alunos da EJA são referentes à resolução ou melhoria na situação cotidiana, pois eles já tem um leque de problemas, tais como família para sustentar, manter ou conseguir novo emprego, ganhar mais, etc.A maioria entra na EJA para aprender a ler e escrever, raros seguem estudando. O esforço do professor/educador será um grande diferencial para que esse aluno avance.

Na afirmação inicial da hipótese dos autores, a educação se propõe a formar para a cidadania. Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira “cidadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cidadão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”

Refletindo esse parâmetro de definição sobre cidadania, os alunos de EJA ainda não conseguiram obter esse patamar. Os autores consideram que pode-se partir de uma definição teórica, mas é necessário que o conceito seja vivenciado, que as pessoas o entendam de fato e identifiquem-se com tal definição em suas vidas. 

A Constituição Federal (1988) garante acesso de todos à educação, mas devido a desigualdades sociais, a exclusão e aos complexos processos de marginalização pelos quais ainda passa grande parte da população é preciso que haja outra lei, para garantir que, os que foram excluídos dos direitos “garantidos” pela primeira, sejam atendidos pela segunda. 

É o caso da Lei 9394/96, que prevê oportunidades e mais garantias, quando na prática;
  • Ainda vemos o aluno da EJA indo à escola com o objetivo de responder a demandas sociais, as quais não o incluem mais como ser produtivo. Demandas das quais nem ele se dá por conta. 
  • Seja um aumento no número de vagas promovido pelas políticas educacionais, seja a necessidade de melhorar os índices de desenvolvimento da população, ele é numericamente incluído, mas ainda não tomou consciência do que o leva até ali, do que esperar disso para si e para a sua comunidade. 
"É neste sentido que os autores questionam sobre qual a real função social da educação para a EJA."
 Segundo Barroso: "Atualmente, a função social da escola é residual e não está conseguindo cumprir com o seu papel (...). Nesse contexto, se discute as possibilidades de estabelecer uma outra relação entre a escola e o local, pois pode dar um novo sentido e significado a essa instituição e contribuir para reinvenção de outra regulação e organização. Esse é o grande desafio que se coloca, atualmente, para combater a exclusão e a segregação interna e externa dos indivíduos."
Reflexão dos autores: Barroso nos fala sobre reinvenção e um novo sentido a este modelo de escola que, segundo ele, não tem cumprido seu papel, que para nós não pode ser outro a não ser formar um cidadão crítico, consciente de seu papel na sociedade e ativo, com poder de reflexão e decisão. Espera-se que seja ampla esta função social, bastante complexa como em todas as definições que encontramos, mas, ao que pesquisamos, a função social tem-se resumido a alfabetização, a processos burocráticos e didáticos de elevação do tempo de permanência da população na escola. A visão encontrada não passa ainda pela formação humana e do cidadão pensante.

Função social da escola ou da educação escolar:
  • Função social como sua razão de ser, pois em Vieira vemos que “sempre que a sociedade defronta-se com mudanças significativas em suas bases sociais e tecnológicas, novas atribuições passam a ser exigidas à escola”.(VIEIRA 2002, pág 13). 
  • Nossa sociedade já passou e passa por muitas mudanças, por isso a importância de questionarmos que função a escola está cumprindo nesta sociedade e principalmente se os sujeitos da escola têm noção sobre esta função.
Que função social cumpre a escola para a EJA?" Nossa pesquisa não pretende encontrar a resposta, mesmo porque sob diversos aspectos as respostas são muitas e variam de acordo com a demanda da sociedade." 

A ESCOLA E AS  PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DA EJA

O papel da escola ainda está na fase de dar oportunidade de escolarização básica aos que não tiveram oportunidade na fase própria. Ainda enfrenta problemas de ordem física, espacial, de acomodação dos alunos, de adequação do mobiliário e da evasão. O levantamento teórico obteve como resultado da pesquisa, a existência de um alto índice de evasão nas turmas de EJA. 

Reportagem da Revista Nova Escola edição 172 de mai/2004: Apresenta dados do Ministério da Educação, os quais informa que menos de 30% dos alunos concluem o curso na EJA.

Razões de evasão: 

  • Principalmente pelo uso de material didático inadequado para a faixa etária, 
  • Conteúdos sem significado
  • Metodologias infantilizadas, aplicadas por professores despreparados 
  • Horários de aula que não respeitam a rotina de quem trabalha e estuda
  • Não se levar em conta às particularidades deste público. 

Conclui-se com esses dados que a prática exercida na Educação de Jovens e Adultos não condiz com as propostas existentes para a mesma. 

A proposta da LDB (Lei n. 9.394/96), em seu artigo 1º: refere-se aos princípios norteadores da educação e estimula a criação de propostas alternativas para promover a igualdade de condições para o acesso e permanência do aluno no processo educativo, a utilização de concepções pedagógicas que valorizem a experiência extra-escolar e a vinculação com o trabalho e com as praticas sociais. Tal parecer sugere segundo Pinheiro “propostas pedagógicas concretas e mais próximas da realidade” (1999, p.29).

 A proposição de diálogos sobre campo de atuação profissional, o mundo do trabalho, sobre a vida. Dialogar conteúdo histórico, legislativo e informativo. Avaliar sempre o interesse e o progresso. Estimular a reflexão, argumentação, de modo a perceber evolução, inclusive no comportamento. Exemplo disso, há os mais reservados que se tornam participativos, o que é uma enorme evolução por vencer o medo da exposição.

De acordo com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais a Educação de Jovens e Adultos deve ser pensada como um modelo pedagógico próprio, com o objetivo de criar situações de ensino-aprendizagem adequadas às necessidades educacionais de jovens e adultos, englobando as três funções: a reparadora, a equalizadora e a permanente, citadas no Parecer 11/00 da CEB/CNE.

  • De acordo com tal parecer, a função reparadora significa a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade e o reconhecimento de igualdade de todo e qualquer ser humano.
  • A função equalizadora dará cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos da sociedade possibilitando–lhes a reentrada no sistema educacional. Finalmente, a Educação de Jovens e Adultos deve ser vista como uma promessa de qualificação de vida para todos, propiciando a atualização de conhecimentos por toda a vida. 
  • A função permanente da Educação de Jovens e Adultos, não apenas alfabetizar, engrossar índices e estatísticas, mas reconhecer os cidadãos que nela se matriculam e permitir, de fato, que acumulem ferramentas para o exercício da cidadania.
É importante ressaltar que a educação destinada a jovens e adultos por si só já apresenta características peculiares. 

É uma modalidade de ensino que se destina as pessoas, que pelos mais diversos motivos, entre eles condições sociais adversas associadas à falta de políticas de planejamento eficazes na esfera escolar, não concluíram a escolaridade básica na “idade própria”.

Por este mesmo motivo é imprescindível que exista uma prática voltada para a realidade do educando, considerado tal ação necessária para que seja possível o acesso e permanência dos alunos, assim como o desenvolvimento dos propósitos a eles destinados.

 Deve pensar em como articular os conhecimentos prévios frente aos disseminados pela cultura escolar. Primeiramente, articular os conhecimentos trazidos pelo aluno de EJA, de sua vivência e sua visão de mundo. Valorizar seus conhecimentos, estimular o que já sabem associando com os novos conhecimentos explorados em sala de aula. Através do diálogo nem puramente academicista e nem puramente instrumental, buscar equilíbrio acolhendo o sujeito. É preciso reinventar a didática cotidiana para a organização do trabalho pedagógico.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Reflexão sobre o texto 'O pensamento de Paulo Freire na formação de educadores", de Maria A. Zanetti

Estudo do texto: 

O PENSAMENTO DE PAULO FREIRE NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES: REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A FORMAÇÃO DE LICENCIADOS EM PEDAGOGIA

1. Contextualização da temática 

Tripé do papel da universidade: ensino, a pesquisa e a extensão. 


Objetivo deste estudo: Apresentar algumas reflexões inerentes, preponderantemente, ao ensino. 

Na formação de professores da primeira etapa do Ensino Fundamental e de pedagogos no Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná, a partir de sua reformulação curricular em 1996, introduzem-se duas disciplinas obrigatórias - Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos, no primeiro ano e Estrutura e Funcionamento da Educação de Jovens e Adultos, no terceiro ano. 

No estudo dos fundamentos teórico-metodológicos, do histórico e das políticas educacionais para a Educação de Jovens e Adultos, o pensamento de Paulo Freire apresenta-se como fundamento balizador, tendo em vista a influência das idéias de deste autor, no que se refere, dentre outros, à alfabetização de adultos, a educação popular, bem como, a sua participação na gestão educacional, vivida diretamente por ele na administração da educação na cidade de São Paulo, em que demonstra, claramente, a não neutralidade da educação e de seus envolvidos, ou seja, a sua politicidade. Mostra também, que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa e como tal, pode contribuir, numa perspectiva progressista, para a transformação da sociedade na qual se insere. 

Além disso, a atualidade de sua Pedagogia, se afirma porque se reconhece nela a importância da consciência, que porém, não é vista (...) como fazedora arbitrária do mundo; é a importância manifesta do indivíduo, sem que se lhe atribua a força que não tem; é o peso, igualmente reconhecido, em nossa vida, individual e social, dos sentimentos, das paixões, dos desejos, do medo, da adivinhação, da coragem de amar, de ter raiva. É a defesa veemente de posições humanistas que jamais resvalam em pieguismos. 

É a compreensão da história em cujas tramas o livro procura entender o de que fala, é a recusa a posições dogmáticas sectárias, é o gosto da luta permanente, gerando esperança, sem a qual a luta fenece. É a oposição (...) contra os neoliberalismos que temem o sonho (...) em nome das adaptações fáceis às ruindades do mundo capitalista.” (FREIRE, 1992, p. 179 -180). 

*** Nesta citação, Freire refere-se ao livro Pedagogia do Oprimido. Porém, entende-se que é possível estender as explicações de sua atualidade para as demais obras do autor.

A educação se materializada na relação entre professor e aluno. De modo que não há um educador, se não há um aluno. Une-se teoria a prática, e assim constitui-se o processo educacional, bem como os resultados obtidos.


Grande diferencial de Paulo Freire, principalmente - Desenvolveu  e estudou teorias, aplicou-as na vivência do ensino de EJA. Professor + aluno = sujeitos ativos no processo ensino aprendizagem, não são objetos um do outro. O professor não só ensina e o aluno não só aprende, esse processo é feito por troca. Ensinar não é simplesmente transmitir conteúdos.

O foco: quais exigências direcionadas ao processo de ensino?

Criticidade - tanto do professor quanto a ser gerada ao aluno. Quando pensamos no aluno, o professor deve valorizar conhecimentos prévios, baseado em experiência e processos formais (escola). O conhecimento formal  e experiências se complementam. O educando parte do senso comum (visão ingênua da realidade) e parte para a visão epistemológica (mais racional, crítica).

Rigorosidade metodológica de Paulo Freire - fidelidade do professor com princípios de ensino, lançar desafios pata capacidade crítica. Ofereço objeto aparentemente pronto e o provoco! Estímulo a um novo olhar.

Pesquisar - criticar - buscar o novo, novos conceitos, novas estruturas de pensamento, quebrar paradigmas, quebrar imposições sociais dominantes. É um desafio importante!

Focar no diálogo e não em memorização. Não consumir a risca as matérias do currículo escolar, fugir do senso comum. Reestruturar pensamentos e quebrar ideologias. A partir de pesquisa e estímulos, desafio educacional é não limitar aprendizagem, tanto aluno quanto professor.

Pedagogia de tendência progressista: Aprender a aprender, construir conhecimento, preparar o aluno para transformar a sociedade. Diálogo com os educandos, ter uma abertura ou canais de comunicação.  Com intuito de possibilitar a expressão, permitindo a consideração e expressão de saberes construídos pelos alunos em suas comunidades. O que permite ao educador, conhecer esse alunos, valorizar suas experiências, sua história de vida, seus saberes prévios, seus problemas, aspectos que consideram importantes, o que ele almeja. Isso auxilia o aluno a buscar seus sonhos, é um suporte necessários para novas conquistas. O professor precisa ser humilde e o aluno precisa ter esperança.

Estética e ética - ao ensinar, o professor tende a dar uma educação moral. No quesito ética+moral, pode-se buscar humanidade, o que influencia nas atitudes do educando. Uma reflexão para que ele se aproprie de valores indispensáveis a vida humana. Isso também é ensinado na escola, não impondo moralismo.

Ensinar é dar exemplo - o professor precisa ser um espelho! Se o professor quer ensinar o aluno a ser um leitor, ele também tem a obrigação de ser, se exige do aluno a capacidade de ser um bom escritor, do mesmo modo, o professor também tem que ser um bom escritor. E se exige a capacidade crítica, não há como fugir dessa obrigação. 

Discriminações de quaisquer tipo devem ser banidas, o educador deve ter cuidado com os preconceitos implícitos na fala. O ambiente deve ser propício para a permanecia do aluno, pois se o educando sente-se ferido, vai ocasionar evasão. Portanto, deve-se promover o acolhimento.

Indivíduo reconhece sua situação -  Pensamento crítico da realidade, auto avaliar-se quanto ao preparo para lidar com diversidades. Rejeição à discriminação, valorizando diversidades. Discriminação ocorre de diversos modos (cultural, étnica, opção sexual, nível de aprendizado, etc). O professor deve ser crítico e humilde, dar esperança.

Curiosidade Epistemológica - buscar todos os fundamentos científicos que amparam o ensino aprendizagem. Discutir, debater, ir além de observação, ter curiosidade, buscar novos desafios a partir da pesquisa , desconfiar o determinado objeto. Professores decoram aula e todos percebem, o ideal é domínio de conteúdo para articular com discussões e problematizar o que pesquisou. Aprofundar a capacidade de síntese, coesão, compreensão.

Com tudo isso, discutir a educação brasileira em geral e a Educação de Jovens e Adultos em particular, em um curso de licenciatura não pode prescindir de apresentar e discutir as idéias de Paulo Freire, tomado a partir da leitura de suas obras e não apenas a partir do que sobre ele foi escrito. 

1.2 O Curso de Pedagogia: 


Reflexões sobre o perfil dos alunos 

Antes de apresentar um dos trabalhos desenvolvidos a partir das idéias de Freire, nas disciplinas sobre a Educação de Jovens e Adultos, considero fundamental caracterizar, embora grosso modo, o perfil dos alunos e alunas com os quais trabalhamos no Curso de Pedagogia, no que se refere à formação e inserção profissional. 

Relato da autora: Em 1997, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná implantou, de forma compulsória, o Programa de Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná - PROEM, a partir do qual as matrículas neste nível de ensino seriam feitas, exclusivamente, em cursos de educação geral, proibindo-se, desta forma, as matrículas em cursos de Ensino Médio profissionalizantes, inclusive nos cursos de Magistério em escolas estaduais. Com isso, muitos alunos, quando ingressam no Curso de Pedagogia, não tem mais a formação em nível médio no Magistério e tampouco atuam na área educacional – escolas públicas ou particulares.

LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO  BRASILEIRA  – LEI 9.394/96.  


O texto da LDB, Lei nº. 9394/96, exige, para a atuação docente na Educação Básica, a formação em nível superior, admitindo para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Esta exigência pode elevar a demanda pelo Curso de Pedagogia.

É ela o norte de toda a educação brasileira, inclusive da rede privada. E estabeleceu no capítulo II, seção V a Educação de Jovens e Adultos. No artigo 37 infere que “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Ou seja, garante uma educação inclusiva e compensatória, promovendo assim o princípio da universalidade. 

A EJA é uma política educacional, porém deve ser compreendida também como uma política social. O parágrafo 2° deste artigo, refere ao estímulo ao acesso da população à essa modalidade educacional, assim como oferecer condições de funcionamento dignas para que sejam de fato efetivados os seus objetivos que são os de inclusão social e melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional dos educandos.

1.3 A Educação de Jovens e Adultos como demanda a EJA

Embora reconhecida como Educação Básica no parecer do professor Carlos Jamil Cury, sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA, do Conselho Nacional de Educação, é preterida de financiamento, devido ao veto presidencial à contagem das matrículas dos jovens e adultos para fins de repasse dos recursos do FUNDEF. A Educação de Jovens e Adultos enquanto demanda, persiste na educação brasileira pois, segundo o censo de 2000: aproximadamente 14 milhões de brasileiros encontram-se no analfabetismo absoluto; a defasagem idade-série corresponde a 41,7%; a taxa de repetência está em 21,6%; a taxa de evasão escolar é de 4,8%. Segundo Paulo Freire, caracterizando-se muito mais como expulsão.

Acesse : O FINANCIAMENTO DA EJA NO BRASIL: REPERCUSSÕES INICIAIS DO FUNDEB

Além disso, o não acesso ou acesso precário das populações do campo à escolarização inicial e principalmente à continuidade dos estudos, fato este que também repete-se nas áreas urbanas, continua gerando jovens e adultos não escolarizados ou subescolarizados. Observando estes dados, verificamos, como afirma Haddad (1992, p.3), que a demanda por Educação de Jovens e Adultos, no caso brasileiro, “se constitui muito mais como produto da miséria social do que de seu desenvolvimento. É conseqüência dos males do sistema público regular de ensino e das precárias condições de vida da maioria da população, que acabam por condicionar o aproveitamento da escolaridade na época apropriada”. 

Nota: À época, no Estado do Paraná, eram mais de trezentas escolas de Ensino Médio com cursos de Magistério. Atualmente, em caráter experimental, funcionam em todo o Estado, apenas quatorze escolas de ensino normal. Conforme já apresentamos, com o PROEM implantado no Estado do Paraná, esta possibilidade não se estabelece, pois as matrículas para a formação de professores em nível médio está praticamente inviabilizada. 

Sérgio Haddad declarou sobre a EJA

“É uma educação para pobres, para jovens e adultos das camadas populares, para aqueles que são maioria nas sociedades do para aqueles que são maioria nas sociedades do Terceiro Mundo, para os excluídos do desenvolvimento e dos sistemas  educacionais de ensino.” (Encontro Latino-americano sobre no Encontro Latino-americano sobre Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores, Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores, Olinda, 1993)

Assim sendo, como afirma Pierro (1992, p.22), não tomar a Educação de Jovens e Adultos como uma das prioridades é um genocídio educacional ou um suicídio econômico, pois significa “... relegar à ignorância parcela tão grande da força de trabalho do país, ou ainda amargar décadas de atraso até que se formem novas gerações”. Porém o que vem ocorrendo em nosso país e, recentemente, de forma mais acentuada com a implementação de políticas neoliberais, é a crescente marginalização da educação de jovens e adultos. 

2. O pensamento de Paulo Freire e a Educação de Jovens e Adultos no Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná 

As disciplinas de Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos e Estrutura e Funcionamento da Educação de Jovens e Adultos ministradas, respectivamente, no primeiro e no terceiro ano do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná, têm como programas para o seu desenvolvimento: a compreensão das concepções de EJA ao longo da história da educação brasileira; o pensamento de Paulo Freire e a Educação de Jovens e Adultos; as políticas educacionais e as legislações que estabelecem a EJA no Sistema Nacional de Educação, principalmente aquelas relacionadas à década de 90, a compreensão dos determinantes políticos, econômicos, sociais das condições de vida da população, bem como, as condições de acesso e permanência na escola. 


Além disso, o entendimento do que significa para um jovem e adulto não ser alfabetizado ou estar subescolarizado, seus saberes, sua compreensão de escola, a interiorização da culpa por não haver se escolarizado quando criança, na idade correspondente a série regular.

O conhecimento de diferentes formas de organização da EJA, buscando atender as demandas desses jovens e adultos por escolarização, também é outro conteúdo necessário à compreensão desta modalidade educacional. Neste processo de trabalho com os conteúdos inerentes a Educação de Jovens e Adultos daquelas disciplinas, tem sido fundamental conhecer o pensamento de Paulo Freire, o quanto influenciou e influencia nas reflexões e práticas educacionais e, mais especificamente, na compreensão do trabalho pedagógico, enquanto professor ou pedagogo progressistas. Assim, nestas disciplinas, buscou-se delimitar para o estudo, algumas obras de Paulo Freire, tomando como critérios para a sua escolha, a temática e o momento histórico de sua elaboração.
Os livros de Paulo Freire escolhidos para o estudo de alunos, alunas e professora foram: Educação como prática da liberdade; Pedagogia do oprimido; Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido, Educação na cidade e Pedagogia da indignação.

Para Freire (1992), a leitura exige uma postura crítica e aberta, radical e não sectária, exige disciplina e rigor, além da paixão de conhecer. A construção desta postura diante do estudo de um texto é uma exigência na formação de educadores com competência e compromisso.

2.1 Paulo Freire: obras escolhidas 
Breve apresentação da caracterização das obras ( que justificam a escolha)

O primeiro livro de Paulo Freire, Educação como prática da liberdade, publicado em 1967, foi escrito logo após a queda de João Goulart da Presidência da República. Neste período, Freire participava como coordenador do Plano Nacional de Alfabetização. Esta obra discute as contradições da realidade brasileira, vinculadas aos problemas do desenvolvimento econômico, a falta de participação popular neste desenvolvimento, a condição antidemocrática e a necessidade de inserção crítica do homem brasileiro no processo de democratização. Freire, preocupa-se em encontrar respostas no campo pedagógico para as condições daquele momento da sociedade brasileira. Discute alternativas no processo educativo, basicamente na alfabetização de adultos, que busquem contribuir na inserção crítica do homem no processo de democratização em contraposição à massificação. Para tanto, além de criticar o formalismo mecanicista das práticas de alfabetização que negam qualquer processo de conscientização, critica também a educação brasileira na sua forma bancária de ser. 

A Pedagogia do Oprimido foi escrita no período de exílio de Freire no Chile, entre 1967 e 1968. Sua primeira edição saiu em inglês em 1970 e somente em 1975 pôde ser impressa em português. Nela, Freire discute o caráter radical da tarefa revolucionária; a problematização e a dialogicidade dos processos de construção da subjetividade, da educação e da realidade; reflete sobre os antagonismos entre a pedagogia do opressor enquanto educação bancária e a pedagogia do oprimido, enquanto educação conscientizadora e libertadora; a desumanização e humanização de homens e mulheres.

A Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido é uma obra com características biobibliográficas. Nela, Freire revisita, relê e revê as tramas em que a Pedagogia do oprimido teve suas origens e que se imbricam com a sua própria história – a docência, o trabalho no SESI, o exílio, os vários países porque passou, seus encontros e aprendizagens com trabalhadores do campo e da cidade, com militantes de movimentos sociais, com outros intelectuais, com sindicalistas, educadores, amigos e com a família. Retoma e relê, também, as tramas e acontecimentos que se desdobraram a partir de sua publicação. Na retomada das origens e dos desdobramentos que se seguiram a publicação da Pedagogia do Oprimido, Freire atualiza, reafirma e revê suas reflexões. Além disso, analisa e responde algumas críticas feitas à Pedagogia do Oprimido na década de 70, salientando a importância de criticar, porém a necessidade de fazê-lo de forma rigorosa e ética. Freire reafirma, neste livro, a defesa do radicalismo crítico e se posiciona contrário aos sectarismos. Chama a atenção para a necessidade da unidade na diversidade na construção da práxis libertadora. 

Na prática educativa progressista - afirma a necessidade do diálogo, do respeito ao saber e a linguagem de senso comum, da problematização, da amorosidade.

Considera a educação - um processo diretivo e político.

A concretização da humanização, enquanto vocação ontológica dos seres humanos é, para Freire, processo que não se faz sem utopia e sem esperança.

Educação na Cidade é um livro em que Paulo Freire responde, em várias entrevistas, sobre o trabalho desenvolvido como administrador público na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, entre 1989 e 1991. Freire mostra que, com um projeto claramente definido e implementado a favor da escola pública e democrática, é possível “mudar a cara da escola”. Sintetiza como objetivos básicos deste trabalho: a democratização da gestão através da participação de toda a comunidade escolar, principalmente, pelos conselhos de escola; atendimento das demandas, democratizando o acesso à escola; garantia da  permanência dos alunos na escola, através de uma nova qualidade de ensino com a construção coletiva de um currículo interdisciplinar e a formação permanente dos docentes, que se funda, sobretudo, na reflexão sobre a prática; buscar a eliminação do analfabetismo.

Pedagogia da indignação divide-se em duas partes:

  • a primeira delas são “cartas pedagógicas” escritas por Freire pouco antes de morrer. Nas cartas pedagógicas discute a contribuição dos processos educativos, na escola e na família, para a autonomia da criança e dos jovens. Discute a necessidade da liberdade em sua formação, sem que ela vire licenciosidade e a necessidade da disciplina, dos limites, sem que estes se transformem em autoritarismo. Resgata a experiência histórica dos Sem Terra em sua busca por eticizar o Brasil e no direito e o dever que todos temos de mudar o mundo. Diz Freire o “futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo” (2000, p.56) e conclama a todos e a todas para, “em marcha”, ampliarmos e consolidarmos a democracia. Em sua última carta pedagógica, mostra sua indignação com o assassinato do índio pataxó, Galdino Jesus dos Santos, em Brasília. Afirma ele, “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor” (2000, p.67). 
  • segunda parte, denominada “outros escritos” são cinco textos – quatro deles escritos em 1996, para conferências ou para publicação em livros, e um intitulado “Descobrimento da América”, em 1992. Nestes escritos, discute as relações entre miséria e alfabetização, os desafios da educação de adultos frente a reestruturação tecnológica e a mídia televisiva. Fala também da denúncia mas também do anúncio, da utopia, do sonho e da esperança e de como a educação pode contribuir nesta construção. 
2.2 Paulo Freire e a formação de educadores: contribuições, percepções e reflexões dos alunos do Curso de Pedagogia

O estudo de livros de Paulo Freire, pelos alunos e alunas da licenciatura em Pedagogia, conforme registro de seus relatos, os tem levado a conclusão, como Freire ensina, que a educação exige pesquisa, alegria, esperança, a convicção de que a mudança é possível e também que a educação é uma das formas de intervenção na sociedade e que eles, como futuros docentes e pedagogos tem um papel fundamental a desempenhar na educação e particularmente na escola. 

Relato das conclusões pessoais escritas, de alunos e alunas do primeiro ano do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná, na disciplina Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos que, no primeiro semestre de 2001, estudaram obras de Paulo Freire. 
N.A.: Por opção, não farei comentários a estas conclusões, por entender que as mesmas, por si só, explicam a contribuição de Freire na sua formação.

Depoimentos :

“O livro Pedagogia da esperança foi a primeira obra de Paulo Freire que li na íntegra, só havia lido artigos e citações sobre seus pensamentos. Sempre tive a esperança de ter uma escola diferente da que se tem, uma escola que se responsabilize pela educação, que reconheça que todos são capazes de aprender e de adquirir conhecimentos além dos que já possuem, em que professores e alunos aprendam numa troca mútua de saberes. E ao ler esta obra, pude perceber o compromisso e o papel de cada um nesta mudança. Confesso que a cada página que lia, me interessava ainda mais. O que mais me chamou a atenção, foi o discurso daquele operário que, com seu jeito simples expôs sua compreensão do mundo, a qual nos vale deter como aprendizado. Além do mais a obra é toda feita de aprendizados para a nossa vida.” (Luciane) 

“ Apesar de já ter feito magistério, essa foi a primeira vez que li um livro de Paulo Freire na íntegra. No começo não gostei muito, pois tinha a impressão que ia ser chato e monótono. No decorrer do livro fiquei muito impressionada com as experiências vividas por ele e me chamou a atenção sua teoria pois, durante as aulas que tive no semestre, me interessei muito pela educação de jovens e adultos.” ( Simone) 

“Esta foi a primeira obra de Paulo Freire que eu li, mas com certeza fiquei bastante motivada a conhecer suas outras obras, visto que ele tem uma maneira muito simples e verdadeira de falar de temas bem atuais e bem próximos da nossa realidade. Conhecer as suas idéias foi muito positivo para mim, como pessoa e como profissional. Agora tenho certeza de que conhecer o trabalho de Paulo Freire é muito importante para a formação de qualquer profissional da área de educação, visto que ele nos leva a pensar na real necessidade que temos de nos definir politicamente e trabalharmos em coerência com a nossa opção. Hoje tenho ainda mais claramente a ideia de que a mudança do nosso sistema educacional para um sistema mais justo, democrático e que realmente atenda a todos os indivíduos da sociedade, é possível. Desde que tenhamos consciência de que a mudança não ocorre de um dia para o outro, que a mudança implica em deixarmos todos os envolvidos participarem e que a permanente formação dos professores é algo fundamental.”(Sirlei) (Educação na Cidade). 

“O que mais nos chamou a atenção foi a questão da conclamação para a concretização desta utopia que é a democratização da sociedade brasileira, através do amor, da indignação e da esperança. Dentre as várias frases lidas neste livro a que mais chamou atenção foi: “mudar é difícil, mas é possível”. (p.81). Enfim, após a leitura deste livro, percebemos que mudar realmente é difícil (deve ser de forma gradativa), mas não é algo impossível; por isso se cada pessoa que ler este livro, começar a mudar, a educação com certeza irá melhorar (...) A educação de nossos filhos e de nossos alunos torna-se um desafio sempre maior, diante da magnitude crescente dos problemas que o mundo atual nos propõe. Daí, então, que a nossa presença no mundo, implicando escolha e decisão, não seja uma presença neutra, porque a acomodação é a expressão da desistência da luta pela mudança.” (Fernanda, Márcia e Marieta) (Pedagogia da Indignação). 

“Confesso que para gostar de ler Paulo Freire tive que recomeçar o livro, e lê-lo três vezes. Na terceira leitura me peguei encantada com a luta de Freire não só pela educação, mas pelo mundo inteiro. Descobri a paixão de Freire pela humanidade e sua incansável busca na esperança de mudança. Com Freire aprendi o verdadeiro valor da educação e o que significa educar, que não é apenas cartilha mas é o mundo, a leitura de mundo, como ele tantas vezes disse. (...) Espero que o amor de Freire através de seus livros passe e transforme a nossa sociedade, espero que meus filhos possam crescer sob a liberdade da autoridade, e possam aprender com professores e professoras apaixonados pela educação tanto quanto Paulo Freire foi.” (Luciane) (Pedagogia da Indignação) 

“Durante o curso de Magistério não tive a oportunidade de ler Paulo Freire, o autor nem era mencionado, só tomamos conhecimento de sua existência porque seu falecimento foi durante o curso. No entanto, ao ler a primeira carta já me apaixonei pôr ele, seu vocabulário é simples, o que facilita muito a compreensão do livro. Paulo Freire se concentrava nos problemas sociais, nas suas essências, ele criticava o que tinha de ser criticado e o melhor, apontava soluções, porque mais importante que apontar o problema é tentar resolvê-lo. Antes de ler o livro tinha muito preconceito com relação ao MST, ao ver as reportagens na televisão sobre invasões, sempre defendia os fazendeiros. Agora mudei de opinião radicalmente, primeiro porque a televisão transmite o que convém sobre o MST e segundo porque os agricultores têm direito e dever de lutar para conseguir sua terra para trabalhar, eles são vítimas da má distribuição de renda e terras, são vítimas de um atraso na reforma agrária. Realmente o livro mudou muito a minha opinião sobre os sem-terra, eles sim são vencedores porque lutam contra a dominação, O que me deixa até assustada é que se não lesse o livro talvez ainda estivesse pensando de forma preconceituosa.” Márcia (Pedagogia da Indignação). 

“Sempre tive a concepção de que a educação deve ser neutra, desvencilhada de concepções políticas. Foi justamente isso que mudou em mim através da leitura da Pedagogia da Esperança. Paulo Freire nos deixa claro que não existe neutralidade na educação, todo discurso se reveste de concepções políticas sempre em favor ou contra algo ou alguém. Outro aspecto importante do livro é a concepção de oprimido e opressor. De como o oprimido se apropria do discurso do opressor e a formação crítica que o indivíduo deve ter para poder enxergar sozinho, livrando-se dos olhos do opressor. Como educador devo ter o cuidado para não cair no discurso do opressor e reproduzir as suas ideologias através de minhas atividades. Ser educador é comprometer-se, identificar-se, lutar pela causa dos desfavorecidos.” Valmir (Pedagogia da Esperança). 

“A leitura do livro foi de grande importância para o estudo dessa disciplina. De fato a leitura do um livro de Paulo Freire faz com que tenhamos uma visão mais ampla dos conceitos e idéias desenvolvidos por ele em todas as obras. Além da contribuição para a Educação de Jovens e Adultos, Freire consegue transmitir a sua grande paixão pelo ato de ensinar, de aprender sempre e de uma nova escola. As concepções de educação nos fazem pensar sobre o nosso papel de educadores e a grande função que temos de educar para transformar e formar cidadãos conscientes dessa transformação.” Caroline (A Educação na Cidade). 

“O educando se torna realmente educando quando e na medida em que conhece, ou vai conhecendo (...), e não na medida em que o educador vai depositando nele a descrição dos objetos, ou dos conteúdos.” (FREIRE, 1992, p.47) 

Desafios na formação docente 

Neste trabalho com alunos da graduação, uma questão de Paulo Freire, para nós formadores, deve sempre estar presente. 

“Como diminuir a distância entre o contexto acadêmico e a realidade de que vêm os alunos, realidade que devo conhecer cada vez melhor, na medida em que estou, de certa forma, comprometido com um processo para mudá-la? (FREIRE, 1992b, p.177) 

 A educação, enquanto diretiva e política, deve sempre respeitar os educandos, “possibilitar (...) o desenvolvimento de sua linguagem, jamais pelo blablablá autoritário e sectário dos ‘educadores’, de sua linguagem que, emergindo da e voltando-se sobre sua realidade, perfile as conjecturas, os desenhos, as antecipações do mundo novo.” (p.41). Porém esse respeito não significa que o(a) educador(a) deva omitir seus sonhos, sua utopia, sua “leitura de mundo”, embora deva salientar aos educandos que há outras “leituras de mundo”, diferentes e as vezes antagônicas a sua leitura. 

Outro desafio que Freire nos coloca como formadores-educadores se refere a aproximação entre a linguagem acadêmica e a linguagem que os alunos usam quando chegam à universidade. 

Afirma Freire: “a questão ... não é abolir, de nossa linguagem de professor ... palavras como ‘epistemologia’, ‘sujeito cognitivo’, ‘práxis’, ‘ideologia’... Não: esses conceitos são absolutamente importantes para nós!... A questão não é aboli-los, ou renunciar a eles, renegá-los, mas, isto sim, como usá-los de modo que se aproximem do concreto”. (FREIRE, 1992b, p.177)

Em um processo educativo dialético, como propõe Freire, fundado no diálogo, educadores e educandos são sujeitos do ato de conhecimento e a curiosidade de ambos, se encontra na base do aprender-ensinar-aprender, exigindo, para tanto, o exercício de uma séria disciplina intelectual. 

REFERÊNCIA

ZANETTI, M. A. O pensamento de Paulo Freire na formação de educadores: reflexões sobre a educação de jovens e adultos. Acesso em 11 de outubro de 2017. http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/Files/seminarios/mesa13-b.pdf