As diferentes configurações no ensino da língua dependem da concepção de linguagem. É imprescindível que o professor conheça
as diferenças entre os tipos de concepções de linguagem, para que esteja ciente de sua prática e de qual tipo de aluno deseja formar.
Historicamente, quando apenas a elite frequentava escolas, praticava-se apenas o ensino da norma culta, dentro de um conceito tradicionalista, com tendência a limitação
e de caráter excludente. De acordo com Soares (1986), o ensino era baseado no reconhecimento da língua considerada como legítima, aquela que segue as regras da norma culta. Em vista disso, nas concepções
tradicionalistas, a linguagem tem significado limitado, denotando ou expressão de pensamento ou instrumento de comunicação. Posteriormente, com a democratização da escola, decorrente do acesso da burguesia às instituições de ensino, houve a inserção das variedades
linguísticas. Devido à esse prévio conhecimento, houve dificuldades e estranhamentos quanto ao aprendizado da norma padrão ensinada com enfoque na Gramática Normativa.
Como recusa à alienação do tradicionalismo, o professor que elege a prática da concepção interacional da linguagem, acolhe estas variedades
linguísticas sem preconceito, respeitando-as sem críticas para não bloquear o aprendizado, pois são úteis à comunicação e interação social, com isso ressalta-se
a ideia de que o mundo da cognição e o mundo da vida estão interligados e influenciam-se mutuamente (BAKHTIN, 2002)
A concepção interacionista é utilizada desde o século passado por ser uma forma eficiente de formar um sujeito crítico, pois através da leitura
de textos com ênfase em análise de conteúdo, é possível compreender além das entrelinhas e de mera interpretação, e mais, possibilita também o reconhecimento da
estrutura dos diversos tipos textuais, comparações de ideias, além de troca de impressões com terceiros.
Prática interacionista:
Deve-se agregar a gramática à linguagem em uso, como modo eficaz de aprendizado global. Partindo dessa ideia, usa-se a leitura como
uma atividade interativa de produção de sentido, contemplando conhecimentos de mundo, linguístico e textual. Nessa conformidade, além da compreensão do texto, consolida-se a mobilização
de conhecimento com enfoque na interação do autor, do texto e do leitor.
A consolidação do hábito de ler desde a educação infantil, trabalhando sempre com temas diversificados, remete a formação tanto de
bons leitores quanto de bons escritores. Pois o estímulo a leitura em consonância com a prática interacionista favorece a evolução na forma da escrita proporcionando o desenvolvimento de um
estilo próprio e incorporação de novo vocabulário. Nesta visão, na prática do professor das séries iniciais, deve-se manter uma rotina de exploração de textos com função social e gêneros
diversificados, permitindo a ampliação da competência comunicativa sem priorizar gostos pessoais. Sobretudo, privilegiar o uso de textos diversos através de leitura e análise exaustiva de
ideias em vários aspectos tais como conteúdo, estrutura e linguagem, e também produção de texto, interpretação e exploração da gramática.
Outro importante propósito da concepção interacionista é o de conduzir o aluno ao amadurecimento do discurso próprio seja oral ou escrito, ressaltando
a importância da linguagem de qualidade, pois ao expressar-se é preciso ter em mente o interlocutor, tornando-o capaz de construir textos ou diálogos com objetividade e clareza de ideias, simplicidade e
didática.
Segundo Gonçalves (2014), o ato interlocutivo não deve se isolar das atividades cotidianas, visto que a linguagem não está dissociada de nossas ações
e, portanto, aprender uma língua significa participar de situações concretas de comunicação. Sendo assim, é fato que não existe linguagem dissociada do ser humano, pois esta
existe para ele e por ele, é o que o diferencia.
Para Bakhtin (2002) é implícita a necessidade de uma reorientação em termos de ensino de língua, com finalidade em capacitar o aluno nas práticas
de oralidade, de leitura e de escrita. Assim, este método interacional, busca contextualizar o ensino de Língua dentro de um espaço histórico cultural conforme as experiências e realidades
cotidianas.
Portanto, o professor que opta pela concepção de linguagem interacionista deve atuar como mediador no processo ensino-aprendizagem, todavia considerar que a escola
é um espaço privilegiado de aprendizagem associado ao contexto sócio-histórico-cultural e à subjetividade dos alunos. De modo que, por meio de desafios no cotidiano deve-se promover a formação
de cidadãos críticos e dotados de autonomia.
BAKHTIN, M. [VOLOSHINOV, V. N.]. Marxismo e filosofia da linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2002 [1929].
GONÇALVES, A. V. O fazer significar por escrito. Selisigno – IV Seminário de Estudos sobre Linguagem e Significação, v. único, p. 01-10, 2004.
SOARES, M. Linguagem e Escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986
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